- Só num país do “Maria vai com as outras”). E o nosso país é um desses países. Em 1910, havia menos de 10% de votantes republicanos; e contudo, a República foi “democraticamente” promulgada pelo telégrafo (e o povo tornou-se republicano dum dia para o outro). Em 24 de Abril de 1974, seguramente metade da população ainda estava com Marcelo (Caetano, bem entendido) e com a manutenção das colónias; mas no dia 26 já todos eram (aliás, “sempre tinham sido”…) democratas e anti-salazaristas; e passados 3 meses, 90% dos portugueses já só queria era deitar a África pelo esgoto e puxar o autoclismo. É o que acontece a povos em que a maioria das pessoas não tem uma opinião fundamentada. E que, por tal se tornam uma saborosa e divertida presa para os demagogos.
- A sanha contra o “prédio Coutinho” é um outro exemplo disto). É outro exemplo consumado do nosso “rebanhismo cultural”. Sabe-se lá por motivo de que interesses pouco claros, desde finais dos anos 90 (ou antes), certos políticos de esquerda moveram contra o “edifício-jardim” (acho que é assim que se chama) uma campanha com o fim inimaginável de o mandar abaixo. De destruir uma gigantesca edificação de 13 andares, que em si mesma nada tem de inseguro, ilegal ou inestético. Para quê? Oficialmente para (nesta época de hipermercados e centros comerciais) aí reformularem o… mercado municipal! É o tal “programa Polis”; e os mais de 300 cidadãos-moradores que se lixem. Defensor Moura “dixit”; José Maria Costa “dixit”; e cá vai disto…
- Viana? Para mim?). Eu não sou propriamente de lá, confesso. Mas nada me impede de reconhecer as belezas da cidade (em cujo monte fiz aliás o meu exame prático de “cacciatore”); e as belezas do distrito, com os belos vales do Lima e do Minho. Em Perre, podia há anos ter começado um namoro. O meu pai foi professor 1 ano, em Viana (e também lá deixou uma apaixonada). Em Coimbra, fui colega de 3 vianenses: o muito mais velho dr. Moisés Parente do Nascimento, mais tarde advogado, de S.tª Marta; do dr. Paulo Renato R. Pato, que se formou em Economia e que vive em Miranda do Corvo; e um 3.º , cujo nome não me recordo, habilidoso futebolista de V. P. de Âncora, veterano colega meu dos amadores da Académica.
- Singularidades vianenses). Selecciono aqui três. A 1.ª é o próprio nome, que se vai inexplicavelmente mantendo, até hoje. Em vez de Viana do Lima (“do Minho” seria algo equívoco, pois este rio desagua bem mais a norte); ou até em vez de Viana “de Portugal” (para distinguir de Viena” de Áustria”); a cidade passou a designar-se, no séc. XIX, por Viana de “um castelo que nunca existiu”. Mas, como disse atrás, “Maria vai com as outras”… A 2.ª singularidade vianense é outra obsessão local, a monomania anti-taurina, que apesar de só afectar os sectores de esquerda, deu para encerrar a praça de touros e, desde há anos, vergonhosamente cercear a liberdade de locais ou forasteiros organizarem no concelho, touradas. Que são tidas por desporto “cruel”, numa região em que não há lavradeira de meia-idade que não tenha já cortado carinhosamente o pescoço a largas centenas de galinhas… Viana tinha até, um emblemático clube taurino, no centro da cidade. Se do Ribatejo não chegam os touros, também não chegam (há anos…) os bons melões; e as portagens da A 28 ali estão, baratinhas. Bem, e a 3.ª singularidade é a tal cómica aversão ao prédio Coutinho, como se adivinha.
- Ribeiro e Castro, Joaquim Letria, Manuel Monteiro, todos a favor do prédio). Há dias, uma importante petição do arq.º Maia Pinto (com muitos apoiantes, inclusive o catedrático J. E. Ribº de Melo e os 3 citados no título acima) pretende classificar o “Coutinho” como imóvel de interesse público, dada a vivência que já tem na história da cidade e a sua plena funcionalidade para o fim habitacional (de qualidade) para o qual foi construído. Além disso, pelo prejuízo económico fútil que o seu fim acarretaria. Além do perigo da sua implosão, para os prédios vizinhos. Notem que da lista consta Letria, o “especialista em apanhados” e este caso parece ser mesmo um caso de apanhados. E talvez a partir de agora “as Marias já não vão mais com as outras”…
- Condenar a estética do “Coutinho”, no pobre país dos Sizas e dos Soutos Mouras?). Por amor de Deus!... Cada vez mais se constroem, nas cidades e aldeias de Portugal, autênticos “abortos estéticos”; e tratando-se de vivendas, estas mais parecem micro-ondas ou máquinas de lavar deitadas à sucata; abundando estúpidas vidraças “nórdicas” e corrimões idiotas e sem classe. No Porto dos “Kàmpiões”, a horrorosa desconformidade estética que representa aquela “nave espacial acidentada” que é a Casa da Música, parece que merece de todos, nota 20. Então por que é que o toque de “modernismo clássico” que a branca proa, o mastro (que significa esteticamente o “Coutinho”), como bonita descontinuidade na fachada da rua em frente ao rio e ao jardim, alguma vez mereceria reprovação? Como em Direito, “se se permite o mais, também se tem de permitir o menos”. O que se devia proibir, eram os “diktats” de certos “pequenos monarcas republicanos”, especialistas em inventar estes novos “casos de apanhados”, sejam eles taurinos ou imobiliários.
Autor: Eduardo Tomás Alves