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O “contingente” de políticos

Por isso, entendo que seria muito mais correto dizer-se que, atualmente, “há demasiada gente na política, sem descriminação de raça, sexo ou religião e poucos onde são precisos”. E embora haja quem diga que quando a mulher tenta ser como um homem não tem ambição, ela já foi pondo de lado esse preconceito. Aliás como se vê em França, em cujos 19 ministros 11 são femininos e dos 577 lugares na A.N., 223 são ocupados por elas, prosseguindo a sua participação em todas as atividades do mundo moderno. 

No entanto, a citação da diva inglesa não deixa de ser atual no que concerne ao “contingente” de políticos na maioria dos países. Quer por escassez de empregos noutros setores de atividade, ou porque a empregabilidade não coincide com o grau académico do cidadão desempregado, sendo muito mais provável encontrar essa compatibilidade através do cartão político-partidário. Em Portugal é assim, onde são tantos os políticos que se atropelam uns aos outros, repetindo-se em cargos de pouca produtividade e escassa responsabilidade, muitas vezes sem que ponham os pés nos gabinetes. Isto, já para não falar no Parlamento Europeu onde apenas 30 – de uma plêiade de 751 deputados – marcaram presença no plenário sobre os seis meses da presidência maltesa. O que levou Jean-Claud Juncker ao toque de reunir para evitar o ridículo na homenagem a Simone Veil.

Não hajam dúvidas que o nosso país tem carecido de gente com alta competência nas mais diversas áreas. Daquela que saiba fazer as contas certas, com a prova real bem tirada, a fim de não andarmos à deriva nas finanças públicas. Pois tendo nós tantos licenciados com mestrados, doutoramentos e títulos honoríficos, por que razão não são encontrados os estadistas capazes de reorganizarem este pequeno país? É que com metade, ou menos ainda, de políticos se poderia fazer o dobro daquilo que se faz, se a cultura fosse a da seriedade e do trabalho. Mandando a honestidade que se diga que há elites, na política atual, que nem para “faxinas” serviriam em tempos de ditadura, quanto mais para ocuparem os poleiros em que, hoje, que poisam tão ilustres traseiros. 

Enfim, temos um país a abarrotar de políticos para que todo o povo de uma nação trabalhe, produza, economize e se esforce, para que se mantenham os seus tachos, as suas prebendas e estatutos, distribuídos de norte a Sul e Ilhas. Os quais começam nas chefias do estado, Parlamento, nos vários ministérios e outros organismos, bem como nas empresas públicas e naquelas em que o estado é parceiro; continuando nas Autarquias locais; Câmaras e respetivas empresas municipais, geradoras do afamado fenómeno “jobs for the boys”, ou afilhados do Edil e terminando nas juntas de freguesia que lhe prestam vassalagem.

Quando em outros lugares o que vemos? Pouca gente na produção exportável; a redução de pessoal para atender os cidadãos – como no caso dos bancos onde há dois ou três bancários e em que trocaram a presença humana pela da máquina. E quem não esperou, já, longas horas na “loja do cidadão”, local, por escassez de funcionários, assim como nas finanças ou em outras entidades públicas? Nas escolas, quantas vezes as direções se queixam da falta de pessoal auxiliar? E nos hospitais quantos empregos lhes são sugados para insuflar rendimentos em novos cargos políticos? 

Afinal, vivemos num país onde o cidadão esgravata e os políticos arrecadam o esgravatado. Em que o povo se alimenta de migalhas e os galifões de crista enchem o papo na boa mesa orçamental. 


Autor: Narciso Mendes
DM

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10 julho 2017