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O caruncho sórdido já muito generalizado nas relações humanas

A sociedade está a atravessar um período impregnado de uma morbidez relacional de tal modo que a convivência entre as pessoas passa por situações complicadas. Tudo o que de errado acontece neste campo poucas vezes é assumido por quem o faz. Nunca vi as pessoas dizer categoricamente: “eu fui culpado; logo, assumo isso e estou disposto a redimir-me, prontificando-me para compensar aqueles que prejudiquei”. Pelo contrário, se são descobertos e alguém exige a reparação devida, esses indivíduos refugiam-se nos tribunais a ver se aí, perante a comunidade, também muito corrupta, salvam a face. Tentam, por todos os meios ao seu alcance, mesmo os mais falaciosos e torpes, obter uma sentença que lhes seja favorável. E, se eles pertencerem ao grupo dos poderosos corruptos e cavilosos, lá vão levando a água ao seu moinho. Só que essa água, em vez de límpida, vai carregada das imundices da injustiça, da fraude e de toda a espécie de desonestidades. O seu interior está inundado por um lamaçal flácido mas repelente. Quando aparecem nos Meios de Comunicação Social, as suas palavras exprimem uma devassidão assustadora e os seus olhos parecem vomitar ameaças e ódio. Nunca vi alguém que, num atitude humilde de reconhecimento dos erros cometidos, se mostrasse arrependido, prontificando-se a reparar o mal que cometeu. Ao invés, o que se ouve mais frequentemente é: “tudo aquilo de que sou acusado é injusto e fruto de uma maquinação; estou completamente inocente”. E, depois da causa transitar em julgado, com uma sentença inocentadora por nada se ter provado, embora, muitas vezes, impregnada de processos habilidosamente armadilhados pelo lado da defesa, vangloriam-se, dizendo: “O tribunal nada provou.” E, num cúmulo sem vergonha, alguns ainda se preparam para exigir uma indemnização por danos materiais e morais por tudo aquilo a que os obrigaram a passar. Não só não restituem nem reparam, como ainda se apresentam como anjinhos inocentes. Entretanto, muita gente ficou prejudicada e com os seus bens mutilados para sempre. Por mais disfarces que procurem, a sua consciência ficou com um peso insuportável que os apoquentará constantemente. Este estado de coisas é ainda mais grave quando praticado por certos responsáveis das instituições, das comunidades e dos povos. O peso na consciência transforma-se num pesadelo moralmente insuportável. Veja-se o que se passa em muitos concursos públicos, onde os incompetentes, os impreparados e os sem habilitações adequadas são admitidos nos cargos, assumindo, sem qualquer pejo, as respetivas funções. Entretanto, os devidamente habilitados e competentes para ocupar as funções são postergados para sempre. Todas estas situações originam grandes desperdícios no erário público que é assim tão mal gerido e delapidado pelos inexperientes, recomendados apenas pelos movimentos de “compadrio”. E os outros que ficaram de fora veem os seus proventos ripados para sempre. Como anda a justiça, tão mentirosamente apregoada por tanta gente! A que estado degenerado chegaram, tanto a defesa zelosa da igualdade de oportunidades, do rigor, da justiça e da independência nos concursos públicos (quando os há!), como também o amparo reparador da solidariedade! Que grau de morbidez venenosa penetrou na ética que regula as relações humanas! Que respeito elanguescente há pela dignidade humana!
Autor: Artur Gonçalves Fernandes
DM

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30 novembro 2017