Os tártaros da Crimeia guardam um histórico muito difícil com a Rússia. Esse povo formou-se no século 15, com a criação do Canato da Crimeia, e três séculos depois foi anexado pelo Império Russo durante as guerras russo-turcas.
Mas o período mais duro deste povo era durante o governo de Estaline. Em 1944, Moscovo realizou uma operação criminosa de grande escala, cujo objetivo era limpar completamente a Crimeia de povos indígenas e substituí-los por russos étnicos.
Em 1944, o regime estalinista culpou pelo colaboracionismo com nazistas todo o povo de Tártaros de Crimeia e todas as 191 mil pessoas deste povo, incluindo bebés, que no prazo de dois dias foram levadas para regiões asiáticas da URSS (áreas de Urais, Cazaquistão, Uzbequistão). Até as famílias de 9 mil tártaros militares do exército vermelho, que naquele momento combatiam na frente contra os nazistas, foram expulsas.
A deportação foi o crime mais terrível perpetrado contra o povo tártaro da Crimeia. Os factos mostram que apenas nos primeiros quatro anos da expulsão por causa das condições extremamente duras de vida(fome, frio, doenças, esgotamento físico) morreram cerca de 46% dos tártaros da Crimeia.
Depois dos tártaros da Crimeia foram expulsos outros grupos étnicos menos numerosos, como gregos, búlgaros e arménios que viviam na península durante séculos e que não foram acusados de traição.
Logo depois começou uma transferência em massa para a Crimeia de pessoas provenientes das províncias russas. Eles ocuparam 80 mil casas vazias, que ficaram dos povos indígenas expulsos.
A perseguição dos tártaros continuou ainda após a vitória sobre os nazis: começou a desmobilização total dos tártaros da Crimeia do exército soviético. Cerca de 9 mil deles foram enviados durante 1945-1946 aos campos de trabalho na Sibéria e nos Urais. Só em 1953 permitiram-lhes reunir-se com as suas famílias em exílio.
Por mais de 20 anos o governo soviético negou completamente o carácter criminoso das suas ações. Só em 1967, o Conselho Supremo da URSS declarou que as acusações contra os tártaros da Crimeia eram totalmente infundadas, mas ao contrário de outros "povos punidos", eles não tinham direito de voltar à Crimeia. No final, em 1989 o Conselho Supremo da URSS declarou a deportação como ilegal e criminosa.
Até ao último momento, Moscovo não deixava os tártaros da Crimeia regressarem à sua Pátria. A sua repatriação em massa começou já na Ucrânia independente.
A Ucrânia assumiu todos os custos e preocupações sobre o alojamento de todo esse povo. Até 2013, voltaram para casa cerca de 266 mil tártaros, que constituíram 13,7% da população da península.
A ocupação russa de 2014 tornou-se para os tártaros da Crimeia um novo desastre nacional. Eles libertaram-se do Gulag, mas o Gulag chegou de novo à sua terra natal.
Portanto, quase todo o povo Tártaro da Crimeia está em oposição aos invasores russos e permanece fiel á Ucrânia. E por isso, os tártaros da Crimeia tornaram-se hoje a principal vítima de perseguição e repressão por parte dos invasores.
Até 25 mil tártaros foram forçados a deixar a Crimeia novamente e emigrar para a Ucrânia continental. Kremlin proibiu o Majlis, parlamento nacional de tártaros da Crimeia, meios de comunicação, a educação, a cultura e a religião sofrem pressão, dezenas de patriotas foram colocados na prisão.
O atual crime contra o povo de tártaros da Crimeia é uma continuação do crime de 1944, que obviamente não era só a deportação, era um verdadeiro genocídio, sobretudo tendo em conta a quantidade de vítimas.
E agora Moscovo está a utilizar o mito de que "a Crimeia sempre foi russa" para esconder os resultados do genocídio dos tártaros da Crimeia e justificar a colonização russa da península.
Autor: Anatolii Koval