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O Bocê boçal

Mas continua a tresandar a boçalidade. Os turistas nacionais que nos visitam devem ficar com uma impressão pouco abonatória deste bocê boçal dos bracarenses! Entendo que seria mais elegante, e até mais educado, não perguntar o que bocê quer, mas o que é que a senhora deseja, ou o senhor precisa. Mas se entendem que o emprego de senhora ou senhor é de mais para o atendimento ao cliente, então não empreguem o bocê, nem o você.

Digam: quer que lhe mande a casa? Precisa de mais explicações, e por favor, acabem com o bocê que soa mal e cheira a parolice por todos os poros. Julgo que os patrões das lojas, os chefes de serviços, os diretores de instituições de atendimento ao público, deveriam fazer uma formação ao pessoal no sentido de lhes indicar uma mais fidalga abordagem. Um dia destes uma senhora saía de uma repartição de tribunal indignada porque uma funcionária, licenciada em não sei quê, se tinha virado para ela e lhe dissera: bocê não leva o guarda-chuva? Todos aqueles que estão ao balcão deveriam polir um pouco mais esta boçalidade.

Bocê que quer, perguntava, perto de mim, há uns tempos, uma estudante finalista à sua mãe. Este bocê estoirou dentro de mim como castanha podre que rebenta no magusto. Eu sei, porque sou desse tempo, que o bocê só era dado em tratamento aos ricos e aos seus filhos que para além do bocê também tinham o privilégio de serem inho: eram o Pedrinho, o Zequinha, o Manelinho e os outros eram o Pedro, o Zeca ou o Manel.

Os pais, os avós, os tios, as pessoas mais velhas, também eram tratadas por bocê porque tratar os pais por tu era uma falta de respeito que a sociedade desse tempo não consentia. Mas nesse tempo também se cuspia para o chão, assoava-se para a via pública, deitava-se papéis fora, falava-se alto, mal e porcamente em público e nada disto era muito censurável. Mas isso passou, esse tempo já tem bolor, mas pelos vistos o bocê resistiu.

O passado engoliu tudo menos o bocê. Eu não quero que me tratem por senhor, já que não sabem, nem por vossa excelência porque de excelente não tenho nada, mas peço-lhes, não me tratem por bocê; olhem, não me tratem por nada que fico-lhes muito grato. Ainda por cima um destes dias fui atendido por bocê, por uma mocinha tão rotinha nas calças das coxas às canelas, que me apeteceu deixar-lhe uma gorjeta para umas calças novas; mas na rua as moças de sua idade ainda andavam mais rotas!

Calo-me quanto a esta rotice, uma vez que é moda mostrar o umbigo, as curvas e as contracurvas do corpo, mas não me calarei sempre que me tratarem por bocê. Sempre direi, menina ou menino não sejam parolos, finjam que são mais polidos, pelo menos finjam diante de quem nos visita. Por favor, façam isso por Braga.


Autor: Paulo Fafe
DM

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29 maio 2017