Pelos constrangimentos vários que acarreta para o quotidiano das pessoas, o automóvel já não é, hoje, um símbolo de progresso, bem-estar e felicidade; e isto torna-se mais evidente e confrangedor no dia a dia da cidade, mesmo de média ou pequena dimensão.
Todavia, já é difícil conceber a vida moderna sem o automóvel pela oportunidade que garante de deslocação, conforto e liberdade; e, sobretudo, atendendo a que ainda funciona como elemento de afirmação pessoal e social.
Agora, temos de pensar que a cidade do futuro não vai conviver pacificamente com o automóvel, pelo menos com este automóvel; e o resultado dessa convivência negativa vai passar obviamente pela expulsão do automóvel do quotidiano da cidade, falando-se já em cidades europeias a proibirem o seu uso nas suas áreas centrais.
Pois bem, enquanto é tempo, vamos ao que à nossa cidade bimilenar, augusta, romana e dos Arcebispos, diz respeito; e a pergunta inevitável e persecutória é: como convive a nossa cidade com o automóvel? Logicamente já com muitos constrangimentos em termos de fluidez, estacionamento e poluição.
Deixemos a poluição e a fluidez e concentremo-nos no estacionamento; até porque Braga ainda é uma cidade onde o automóvel convive pacificamente com as pessoas embora, nas zonas pedonais, devido aos horários de cargas e descargas, a segurança e placidez sejam diariamente afetadas.
Ora, uma vez que a Câmara Municipal acaba de recuperar as 27 ruas onde funcionou estacionamento pago, gerido por uma entidade privada, e, no momento, é gratuito, torna-se necessário ponderar o que fazer; e, por isso, será de toda a utilidade ouvir o que têm a dizer as forças vivas da cidade: moradores, comerciantes e industriais, mormente, de hotelaria, no que concerne às condições de aparcamento nas zonas centrais da cidade.
Segundo o edil Ricardo Rio, vai-se proceder num curto prazo a uma avaliação da situação para o futuro, antes que sejam tomadas decisões; só que, a meu ver, muito importante é proceder a um cuidado estudo, tendo em conta o interesse geral: residentes, peões, automobilistas e visitantes.
Ademais, há três ponderáveis que devem ser tidas em primeira prioridade: quais as artérias a parquear, que tipo de parqueamento e qual o preçário a aplicar; mesmo sendo um assunto de tratamento, política e socialmente delicado, sou de opinião que o estacionamento pago tem de existir, pois, só assim, há garantias de as pessoas poderem estacionar para, mesmo no centro, fazer qualquer serviço necessário, rápido e urgente; e, deste modo, acabam-se com as ocupações de espaços o dia inteiro e as paragens em segunda fila nas zonas mais procuradas da cidade.
Depois, qual o preço a pagar pelo estacionamento? A meu ver, será útil e eficiente praticar preços mais módicos dos que foram e são praticados e por um período de tempo restrito; esta prática pode funcionar duplamente bem para quem precisa de um período mais alongado e para quem, apenas, pretende fazer um recado mais rápido e urgente.
Há no país cidades que praticam uma política de aparcamento público barato, mas limitado no tempo; e dou um exemplo que bem conheço: na cidade do Porto e em artérias centrais o preço por duas horas de estacionamento é de um euro; mas, o utente não pode permanecer no mesmo local para além das duas horas. Ora, esta prática torna o estacionamento mais acessível, fácil e procurado; e ainda permite fracionar estes 120 minutos em parcelas muito económicas para quem necessita, apenas, de 15, 30, 45 ou 60 minutos de parqueamento e, em termos económicos, a autarquia não fica prejudicada e, até, poderá usufruir de algum lucro.
Depois, há que ponderar bem nas ruas onde a gratuitidade é preferível ao pagamento e aquelas onde este é praticamente obrigatório, como, por exemplo, onde há creches, infantários, escolas, repartições e serviços públicos (vejamos o caos rodoviário que se instala diariamente na rua do Raio, às horas de recolher e largar crianças na creche que ali funciona). Cometeram-se, ao longo dos tempos, na nossa cidade autênticas barbaridades no que a esta problemática diz respeito, estreitando ruas e desenhando outras muito estreitas, proibindo estacionamentos e sentidos de trânsito, concedendo a entidades privadas a exploração de aparcamentos subterrâneos e a construção em Santa Bárbara de uma zona comercial subterrânea, praticamente às moscas, em vez de um parque automóvel; por isso, nada de precipitações, facilitismos e superficialidades na abordagem desta problemática e, muito menos, deixar de ouvir a voz das bracarenses, através de todos os seus representantes no poder autárquico.
Até para que, enquanto o futuro não expulsar o automóvel da cidade, possamos finalmente exclamar que É BOM VIVER EM BRAGA!
Então, até de hoje a oito.
Autor: Dinis Salgado
O automóvel e a cidade. Estacionar em Braga
DM
2 maio 2018