É inquestionável que o adequado uso da bicicleta à situação física e de saúde de cada um, é benéfico para o aumento da qualidade de vida em várias vertentes: na saúde física, na saúde mental, na qualidade do ar, na diminuição do tráfego das cidades, na maior interação dos cidadãos uns com os outros, no lazer, no desporto e em muitos outros.
Braga foi uma cidade que, durante quase 4 décadas, cresceu ao acaso, seguindo o interesse dos empreiteiros, sem planeamento e sem qualidade. Nunca foi pensada para um sistema adequado de recolha de lixo, nem para a circulação de veículos a velocidade reduzida e, por conseguinte, muito menos para o uso da bicicleta, como já existia em muitos países da Europa e como já estava a ser introduzido em muitas cidades de Portugal.
Aliás, Braga era frequentemente visitada por estudantes universitários para constatarem, ”in loco”, o que nunca se deveria fazer numa cidade.
Também é sabido que, no caso das bicicletas, há em Braga condições para aumentar o seu uso, embora nunca ao nível dos países nórdicos, por várias razões: uma cidade com vias de forte inclinação, alto grau de pluviosidade com vento e, sobretudo, uma menor resistência ao clima outono e inverno por parte dos seus habitantes. Quantos de nós já não vimos, em pleno Dezembro e Janeiro, europeus do norte da Europa nas ruas de Braga em mangas de camisa ou com roupa leve, algo impensável com os portugueses.
No entanto, a política municipal seguida há mais de 9 anos, tem introduzido – e bem – um aumento da mobilidade suave quer no aumento dos espaços apropriados às bicicletas, quer na recuperação das vias existentes.
As faixas pop up (linhas vermelhas em vias com a obrigatoriedade do limite de velocidade automóvel a 30 kms) que nasceram do nada de um dia para o outro, de utilidade duvidosa face ao estado de muitas das nossas vias, vieram, por outro lado, a confundir muita gente, embora seja justo reconhecer que aumentam a proteção ao ciclista uma vez que – e este ponto é decisivo – num local onde anteriormente já circulavam bicicletas, foi reforçada essa informação de circulação de bicicleta aos condutores, com a introdução de limite de velocidade aos automóveis adequada à coexistência com ciclistas.
Aliás, é curioso que nunca se notou por parte daqueles que pugnavam pela redução dos limites de velocidade, apontado sempre como exemplo, cidades na Galiza, nunca vieram, agora congratular-se pela limitação da velocidade automóvel a 30 kms por hora em várias vias municipais.
Braga tem um lobby forte por parte daqueles que querem usar a bicicleta permanentemente como meio de transporte, que se revelam nas redes sociais, em textos de opinião nos jornais, em várias canais de comunicação tendo, aliás, todo o direito a defender e lutar pela defesa dos seus pontos de vista.
Já agora, a talhe de foice, lamento é constatar que esse lobby não tenha nenhum sucesso em conseguir que os ciclistas que profusamente usam a bicicleta como lazer na nossa cidade aos fins se semana, não o façam no seu uso diário. Seria um bom motivo de reflexão .
Cabe, no entanto, ao executivo municipal, que representa o interesse coletivo, atender ao interesse de todos, desde ciclistas, automobilistas, peões, às pessoas de mobilidade reduzida, às pessoas mais idosas, às crianças, às famílias, sempre com moderação e equilíbrio, sem ceder a extremismos.
Ainda há dias verificamos a necessidade de impor esse equilíbrio quando foi publicamente defendido – por parte de um grupo de cidadãos “mais cicláveis“ no que foi seguido oportunisticamente pelo Bloco de Esquerda -, que o uso da bicicleta deveria ser permito na nossa zona pedonal.
A vereadora Olga Peleira, responsável pelo pelouro da mobilidade, respondeu atempadamente quando, baseada numa informação da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária, veio relembrar que, nem as leis do nosso país, nem o regulamento municipal, consagram o Centro Histórico de Braga como zona de coexistência de peões e bicicletas.
Aliás, não é pelo facto de ser permitido pelo Código Regulamentar do Município, a introdução de veículos pelas necessárias cargas e descargas para a vasta área comercial, ou pelas viaturas de residentes, sempre em determinados horários (sob pena de então ser muito reduzida a habitação no Centro Histórico), ou pela autorização de permanência de veículos imóveis em eventos determinados no tempo, como aconteceu no último dia de Portugal, ou mesmo pela passagem de ambulâncias, que a zona pedonal deva ser defendida como zona de coexistência de bicicletas e peões.
Não faz sentido nenhum, relacionar essas exceções de passagem de automóveis com o uso de bicicleta no Centro Histórico. !
Boa noticia foi, no entanto, a possibilidade do executivo municipal vir a estudar a possibilidade de alargar o uso da bicicleta em determinadas zonas pedonais, nos termos da lei, tendo em vista o interesse de toda a comunidade, o que exclui o uso da bicicleta na Rua de Souto e nas vias circundantes, como é óbvio.
Moderação e equilíbrio, sem cedência a extremismos é o que se espera de quem nos governa, seja numa cidade, seja num país.
Autor: Joaquim Barbosa