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O amor maternal de Nossa Senhora: Escapulário do Carmo

Todos os anos, no dia 16 de Julho, lembra a Igreja aos seus fiéis que Deus não se esquece dos homens e lhes deu, com a sua generosidade misericordiosa, uma Mãe protectora e amiga, que deles cuida e protege durante a sua vida terrrena, com veementes desejos de os encontrar o mais rapidamente possível no Céu, após a sua morte. E Deus não tem pejo nem quaisquer reservas de, ao oferecer-lhes essa dádiva tão caritativa, presenteá-los com a sua própria Mãe, Maria Santíssima. Esta passa a ser um ponto de união e de aproximação de Deus aos homens e destes a Deus, porque ambos tratam Nossa Senhora com a maior e semelhante intimidade, pois é Mãe comum.

Certamente que a Festa de Nossa Senhora do Carmo – a do dia mencionado no início destas linhas –, manifesta a vontade de Deus de não ser um ser longínquo e frio, autoritário e difícil de tratar, mas a de Quem tudo faz da sua parte, sem perder qualquer dignidade, para nos facilitar o acesso, rápido, familiar e sentimental, através de um ser que amamos – nós e Ele – filialmente e a quem todos os dias, ou com muita assiduidade, pedimos favores e graças, porque temos consciência de que uma Mãe sempre atende os pedidos dos seus filhos com generosidade. Mais: estamos certos de que se as nossas petições forem tontas ou absurdas, com o mesmo carinho, Maria nos elucidará do destempero do que lhe solicitamos, como, certamente, procedia a nossa mãe terrena. Podíamos então reagir talvez dum jeito destemperado, mas ouvíamos o não firme da nossa mãe, além da sua repreensão pela forma pouco educada do nosso comportamento.

Nossa Senhora do Carmo é uma festa litúrgica muito antiga, que teve a sua origem na presença de eremitas no Monte Carmelo, situado mais ou menos entre a Samaria e a Galileia, na Terra Santa. Aí viveram os profetas Isaías (século IX AC, segunda metade) e também Eliseu (século VIII AC, primeira metade), que reuniram discípulos que deram origem a uma tradição eremítica, que foi continuada depois pelos cristãos. Segundo reza a tradição, o profeta Elias terá experimentado uma visão de Nossa Senhora, que, alguns séculos depois, e enquanto se encontrava fiisicamente aqui na terra, terá ido visitar os eremitas que por ali viviam, na esteira desse profeta e de Eliseu. Já no século XII da nossa era, um dos Patriarcas de Jerusalém, para dar maior consistência a esta presença, estabeleceu uma regra própria, onde acentua especial relevância o trabalho, a meditação das Escrituras, a devoção a Maria Santíssima e a vida contemplativa e mística.

É também destes anos a invasão e conquista da Terra Santa pelos muçulmanos, que obrigaram os carmelitas a emigrar para a Europa, onde tiveram muitas dificuldades e incompreensões. Ao ponto de um dos seus superiores gerais, Simão Stock (futuro santo da Igreja), antigo eremita inglês que ingressou na Ordem Carmelita, rezando fervorosa e instantemente, no dia 16 de Julho de 1251, a Nossa Senhora, pedindo-lhe com veemência que lhe desse um sinal do seu carinho materno à Ordem por ela tanto amada, e, nesses tempos, perseguida com violência. Maria não se fez rogada. Apresentou-lhe na sua mão um escapulário, dizendo: “Recebe, meu filho, este Escapulário da tua Ordem, que será o penhor do privilégio que eu alcancei para ti e para todos os filhos do Carmo. Todo o que morrer com este Escapulário será preservado do fogo eterno. É, pois, um sinal de salvação, uma defesa nos perigos e um penhor da minha especial protecção”.

Mais uma vez, o carinho maternal de Nossa Senhora se manifestou, desejando que o Escapulário se transforme para nós num motivo de presença, de reflexão e de amor a Deus constante. Por isso, Maria Santíssima, Mãe de Deus e dos homens, nos ajuda a vencer os custos e as dificuldades com que a vida se apresenta, prometendo-nos, além disso, que na hora da nossa morte nos protegerá com a eficácia do seu zelo carinhoso. E compromete-se, inclusivamente, a que a graça de Deus penetre e comande os nossos derradeiros momentos da vida terrena, a fim de que, também, se tivermos de passar pela purificação no Purgatório, ela nos faça sair de lá com brevidade, a fim de entramos por toda a eternidade no reino dos Céus.


Autor: Pe. Rui Rosas da Silva
DM

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18 julho 2021