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O amor e a verdade

Intimamente ligada à ética e ao amor está, sem sombra de dúvidas, a verdade. No entanto, há muita gente, inclusive em desempenhos de cargos de grande responsabilidade, para quem a verdade pouco lhe diz ou interessa. Essas pessoas, no entanto, não se cansam de apregoar a honestidade, a franqueza, a isenção, o desprendimento e o serviço altruísta em benefício do povo.

Será que a verdade está na hipocrisia, na calúnia, no sarcasmo, na ironia, na mofa, no cinismo, no motejo ou na chacota dos outros? Certamente que não. Outrossim, não se encontra no ódio, na inveja, na incompetência, na fraude, na corrupção, na irresponsabilidade, na violência, na ganância pelo poder, na propaganda enganosa, no esbanjamento do erário público ou na incoerência.

Também não está no mau funcionalismo, onde até a clubite mina a sua deontologia e, muitas vezes, são os contribuintes que sofrem, pois, além de não serem devidamente atendidos, são convidados a voltar noutro dia. A verdade, a honestidade, a decência e a dedicação desinteressada só se encontram no verdadeiro amor.

O amor sincero é a única força motriz capaz de ativar as energias vitais do homem e de revitalizar as potencialidades da sua própria natureza. O sentimento humano do amor é o princípio ético que contém uma verdadeira mensagem e um programa correto para a vida. Esta exigência ética interior implica um ideal sem ódios , do qual fazem parte, impreterivelmente, o perdão e a reconciliação.

O amor e o perdão são curativos. Quem ama e perdoa não sente remorsos que podem favorecer o aparecimento de certas doenças que vão exigir consultas e despesas que, de outra maneira, seriam evitadas. Na caridade humana não há lugar para a mentira, para o ódio, para a vingança, para a violência, para a injustiça, para a agressão, para a xenofobia e para o abandono ou o desprezo dos outros.

Por seu turno, abundam os debates sobre esses comportamentos desviantes, mas eles continuam a multiplicar-se por todo o lado. Realizam-se fóruns acerca dos direitos das crianças, criam-se mais umas tantas comissões para a sua proteção e, no entanto, as violações dos direitos da criança e a pedofilia continuam a proliferar.

Mudam-se os gestores e os administradores das empresas públicas, mas apenas aumentam os seus vencimentos e as preferências pessoais nos respetivos departamentos, enquanto os programas mantêm a mediocridade costumeira e os contribuintes continuam a alimentar estas situações por meio de taxas e de impostos, cada vez mais numerosos e mais agravados. É que a ética, a deontologia e a competência não se compram por decreto. Onde escasseia o autêntico amor ao próximo não se pode esperar uma justiça social duradoira.

Não podemos esquecer que o amor deve ser a libertação daquilo que não queremos nem para nós nem para os outros. Não nos podemos deixar vencer pelo mal, mas, sim, tentar vencê-lo com o próprio bem. O primado do amor ressalta do confronto com outros valores e a sua robustez é notada, sobretudo, pelo dinamismo específico que proporciona a toda a existência humana e que permanece na perfeição escatológica.

Este alto valor da existência humana não se esgota apenas nas formas de um simples amor fraterno, mas encerra também a experiência do amor de Deus. Filon de Alexandria, numa ténue antecipação à brilhante máxima de São Francisco de Assis, assumindo um ideal filantrópico, defende a extensão do amor aos próprios animais irracionais e às plantas. Por seu turno, S. Paulo procura mostrar como o amor ao próximo é uma consequência intrínseca do amor de Deus.


Autor: Artur Gonçalves Fernandes
DM

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22 março 2018