Assim sendo, recordemos zangas, distanciamentos entre sociedades, guerras, fome, mortes desnecessárias e tudo devido ao açambarcamento do vil metal, de bilhas de sangue sugado e do madracismo de tantos. Atentemos na nossa Europa, na União Europeia. Que ouvimos nas televisões, que lemos na informação escrita, que sentimos no mundo familiar, social e profissional? Más noticias, dúvidas de toda a espécie, tudo é eventual, tudo se adia, os problemas da humanidade acumulam-se e só as enguias lodosas da política vivem e engordam. Ninguém faz nada por ninguém, e só esses murenídeos fazem de tudo: rapaceando todos os “ninguéns” à sua volta.
O abcesso que nos devora, são os mais de noventa e nove por cento dos políticos que nos representam. São os negócios fraudulentos contra os povos; são a busca ou a conquista de estatuto e de privilégios individuais e colectivos; são o fanatismo visível do enriquecimento fácil sem trabalho, onde cobardemente se atraiçoa, mente e mata, se necessário for.
A violência física, psicológica e verbal, não têm fronteiras. Pense-se naquela entrevista a um jornal alemão, dada pelo ministro do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, que afirmou: “Durante a crise do Euro, os países do Norte foram solidários com os países afectados pela crise. Atribuo importância à solidariedade. Mas há obrigações para quem pede solidariedade. Não se pode gastar o dinheiro todo em copos e mulheres e depois vir pedir ajuda”. Ora, como se sabe, os países do Norte são os ricos, os inteligentes, os triplicadores de bens. Os países do Sul, inclusive Portugal, são os tais que gastam todo o dinheiro em “copos e mulheres”. São bebedolas, machões insaciáveis de sexo, irresponsáveis até e sem capacidades para saberem governar o ordenado, média de 800 euros mensais, que cada português recebe.
Não creio que o senhor Dijsselbloem, ministro do seu país rico, e com cargos na União Europeia, seja capaz de viver com 800 euros de ordenado e gastar tudo em “copos e mulheres”. Estes arrotadores da sociedade, não passam disso mesmo: arrotam a lagosta, a caviar, a caríssimas bebidas espirituosas e, ao pé deles, os gordurosos aromas são abafados por caros perfumes para confundir.
Pelo que, entendemos que os políticos em geral e no activo, se inteligentes, sérios, com o dom de estadistas e de saudável europeísmo, jamais proferiam palavras demagógicas, banais, surradas, e actuavam sempre de forma que respeitassem os votantes, sem nunca dar a estes, motivos para que testemunhassem o divórcio entre políticos e política. Os políticos no activo, bastava-lhes cumprir o que nas campanhas ardilosamente prometem, e tempo já não tinham para pensar nos copos e nas mulheres consumidas. Os políticos sem habilidades de ocasião, apresentam ideias elevadas, possíveis de concretização e, sempre, sempre, em prol do povo e não dos seus egoísmos, de ideologias ocas ou loucas.
Não se pode com certeza esquecer o abcesso que devora Portugal – que nos devora! Incompetência política, busca de dinheiro fácil, a cunhice permanente para sobrinhos, filhos e amigos, busca-se palmo a palmo, nos espaços da Assembleia da República, nas câmaras municipais e juntas de freguesia e em tudo que cheire a euros a receber do Estado, desde que este exija pouco trabalho ou empenho. Buscam-se negócios habilidosos, que fintem a lei, que sejam rápidos e opacos, e não permeáveis ao pensamento dos mais atentos ou dedicados.
Brevemente teremos entre nós as eleições para as autarquias locais. Outro abcesso que nos devora. Porque como a maioria das campanhas anteriores, estas também não terão inteligência, vida, verdade, filosofia, convicção. Assistiremos sim – como de costume – à política de taberna: a agressão verbal, denuncia do madracismo de alguns autarcas, dos ataques com aromas de cavalariça, do vazio, da falta de metas e do desconhecimento total do porto de chegada: todos testemunharão o desnorte, para depois, entre vencidos e vencedores encherem os estômagos e darem mais longevidade ao abcesso que nos devora.
(O autor não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico).
Autor: Artur Soares