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Notícias procuradas e notícias recebidas

1. O jornal que lemos inclui, normalmente, duas espécies de notícias: as notícias recebidas e as notícias procuradas. E o mesmo acontece na rádio e na televisão.

Notícias recebidas: toda a informação que o jornalista divulga porque alguém lha deu, sem que o mesmo jornalista a solicitasse. Espontaneamente – não digo que desinteressadamente – a fonte de informação abriu-se e jorrou.

Notícias procuradas: as que o jornalista, consciente do seu dever de contribuir para que os leitores estejam bem informados, vai buscar. Aquelas que resultam de um trabalho jornalístico de longa ou curta investigação. As que o jornalista tirou a saca-rolhas. As que o jornalista conseguiu, não antes de despender certo esforço e de bater a diversas portas.

 

2. Através das notícias recebidas o leitor pode ser informado unicamente do que querem que ele saiba. Mediante as notícias procuradas por um jornalista consciente e responsável, como há muitos e seria bom fossem todos, o leitor é informado do que o tal jornalista entende que deve saber, do que precisa de saber, do que é bom para si, leitor, que saiba.

A notícia recebida pode dizer só a verdade que convém a quem a divulga. A notícia procurada, em principio, diz toda a verdade que deve ser dita, mesmo que se trate de uma verdade incómoda para pessoas nela envolvidas.

A notícia recebida está, muita vezes, ao serviço de interesses particulares, geralmente de pessoas com qualquer poder. A notícia procurada deve ter em vista o bem comum e é, por vezes, inquietante para quem exerce o poder.

A notícia recebida pode ter a intenção de deformar a opinião pública. De contribuir para a formação de uma opinião pública orientada de harmonia com certas conveniências. A notícia procurada deve contribuir para a correta formação da opinião pública.

A notícia recebida pode contribuir para a formação de cidadãos alienados. A notícia procurada deve formar cidadãos adultos, cada vez mais conscientes, mais livres, mais responsáveis.

Com a notícia recebida pode procurar-se que as pessoas digam amém. A notícia procurada deve contribuir para que o leitor saiba dizer sim e saiba dizer não.

A notícia recebida pode não ter como objetivo imediato a informação isenta e imparcial. Pode pretender criar uma boa imagem da pessoa ou da instituição que direta ou indiretamente a divulga. E é em função dessa imagem que se seleciona a informação a divulgar e o momento da divulgação. Informação que não classifico de não verdadeira, mas onde se não diz a verdade toda mas apenas a verdade que interessa à construção da referida imagem. A notícia procurada, em princípio, tem como único objetivo informar devidamente o leitor.

Com a notícia recebida pretende-se, muitas vezes, a mansidão e a docilidade, enquanto que a notícia procurada pode gerar o inconformismo e a rebeldia.

A notícia recebida faz com que os diversos jornais apenas divirjam nos títulos e em alguns pormenores. A notícia procurada contribui para que cada jornal tenha a sua personalidade e as suas caraterísticas.

 

3. Qual é, nos nossos jornais, a percentagem de notícias recebidas e de notícias procuradas?

Este é um dado que todo o leitor esclarecido deveria possuir, mas não sei se os próprios jornais estarão muito interessados em fornecer. Poderá haver casos em que as notícias procuradas estejam em minoria.

Uma coisa é certa: é preciso saber ler o jornal. Saber quem informa o jornal e junto de quem o jornal se informa. Além da notícia importa saber o que está por trás da mesma.

E há uma pergunta que qualquer leitor esclarecido terá de se fazer: porque é que este jornal fala hoje disto e desta maneira?

 

4. Além dos jornalistas que devotadamente vivem a profissão há pessoas que, não pertencendo às redações dos jornais, têm como grande preocupação manter um bom relacionamento com os jornalistas. São pagas para isso. E são elas que como que dizem às redações o que, em determinado dia e a determinada hora, devem fazer. São elas que, através de comunicados, de conferências de imprensa, de eventos que provocam, de sugestões que apresentam, determinam, por vezes em grande parte, o conteúdo informativo dos jornais. E fazem-no sempre tendo em vista o bem comum


Autor: Silva Araújo
DM

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20 julho 2017