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Nossa Senhora no coração dos artistas

Desde os primeiros tempos da pregação apostólica que na Península Ibérica a iconografia de Nossa Senhora, muito querida e venerada pelas gentes cristãs, se perde na “noite dos tempos.” Esta dedicação à Virgem começou, no nosso espaço Lusitano, a ser muito vincada como podemos deduzir pelas igrejas logo a Ela dedicadas, destacando-se a Primacial de Braga. Segundo rezam algumas fontes, São Tiago Maior terá deixado como primeiro bispo o seu discípulo,São Pedro de Rates. Devido a essa origem apostólica é considerada como Sacrossanta Basílica Primacial daPenínsula IbéricaTeve sempre um estatuto privilegiado, ao longo dos séculos, podendo referir, por exemplo, segundo algumas fontes, a presença de D. Paterno, bispo de Braga, no primeiro concílio de Toledo (397 a 400). Mais tarde, no século VII (653), no 8.º concílio, o alto clero da Lusitânia representava já a fé de um povo que se “ajoelhava e rezava perante as mais antigas, ingénuas e devotas imagens de Santa Maria.” Durante o período visigótico e suevo a Sé de Braga obteve um enorme prestígio, sendo já uma construção com uma certa dignidade e beleza, mas foi arruinada, em 716, pela ocupação árabe, sendo reconstruída, a partir de 1070, após o domínio muçulmano, a denominada reconquista cristã. A dilatação da fé e devoção a Nossa Senhora, são patentes logo, no início do cristianismo, “quando se consagram, em Braga, a S. Pedro de Rates, capela e altar da sua invocação … muito antes que o seu Mestre Santiago edificasse o Templo da Senhora do Pilar de “Caragoça” (Saragoça). Muita da nossa iconografia marial da era visigótica, moçárabe e de outras eras desapareceu no decorrer dos tempos: imagens, esculturas, pinturas, frescos; peças artísticas na ourivesaria, na torêutica (arte de esculpir em metal, marfim ou madeira), nos esmaltes, nas iluminuras, nos marfins e vitrais que ornamentaram templos e outros locais de culto. Umas foram destruídas pela ferocidade de certos povos invasores, outras encontram-se em casas particulares, sendo retiradas, em tempos recuados, dos seus locais primitivos, outras desaparecidas com os incêndios, com os terramotos e com outras intempéries, outras foram enterradas com um sentido de preservação que vão aparecendo por acaso. Aconteceu na minha paróquia de Vilarinho, no decurso de umas obras, na década de 60 do século passado, encontrando-se enterrada debaixo do soalho da Capela do Senhor dos Passos e de Santa Luzia, a imagem de S. João Evangelista que foi, prontamente, restaurada e, neste momento, faz parte do quadro da Paixão de Cristo patente na tribuna do Altar da Capela. O Espaço Lusitano, Reino de Portugal, Terra de Santa Maria, território nacional reconquistado pelos cristãos, foi e é espaço geográfico propriedade de Nossa Senhora, porque sempre foi reino seu. As primeiras igrejas dedicadas à Senhora Redentora, Mãe de toda a humanidade, como já referi, a Primacial de Braga e de tantas outras que a seguir se construíram e, ainda, imensas tradições de entrega dos povos, Reis, notáveis guerreiros da fé, e de tantas outras exteriorizações são prova dessa entrega a Maria. Friso, aqui, o grande exemplo do nosso primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques, que, na reconquista cristã, à medida que avançava para sulm, ia colocando nas igrejas, que, entretanto, surgiam, imagens de Nossa Senhora, imagens de Cristo e de tantas outras da sua veneração. São os templos os grandes testemunhos da crença dos povos de todos os tempos. As artes plásticas, as imagens, as pinturas… aquelas que resistiram ao vandalismo dos tempos, aos incêndios, aos terramotos… são as que nos dão a mais viva prova de amor a Jesus Cristo e a Nossa Senhora. Segundo a obra que estou a ler, destacam-se algumas relíquias dos séculos XII e XIII que ainda existem, a saber: esculturas da Igreja Matriz e da Capela Azinheira, em Chaves, a da Coleção de Ernesto.de Vilhena (militar, político, administrador e colecionador de arte – falecido em 14/02/1967), em Lisboa e outras no Museu Alberto Sampaio, em Guimarães. A de madeira policromada representa Santa Maria de Guimarães, primeira padroeira do então “burgo baixo da Vila” que, segundo Alfredo Guimarães, é «uma obra caraterizada, na especialidade, pela disposição tubular das vestes, a situação simétrica da imagem de Jesus, e não menos pela coloração simplista…; e a do século XIII, figurando Nossa Senhora do Leite.» Principal fonte destas crónicas: “Fátima Altar do Mundo”, 3 volumes, sob a direção literária do Dr. João Ameal da Academia Portuguesa da História; direção artística de Luís Reis Santos, historiador de arte e diretor do Museu Machado de Castro, Coimbra; realização e propriedade de Augusto Dias Arnaut e Gabriel Ferreira Marques, editada pela Ocidental Editora, Porto, em 1953.
Autor: Salvador de Sousa
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2 janeiro 2019