1. A Igreja começou a reunir-se em casas, mas nunca se conformou à casa de cada um.
A dimensão comunitária foi-se tornando o corolário da vivência pessoal e familiar da fé.
2. Parafraseando Jean-Marie Tillard, diria que a Igreja, no fundo, é uma «Igreja de igrejas», uma «comunhão de comunhões», uma «família de famílias».
O Santo Padre advertiu, há dias, para o perigo de uma certa «viralização» da fé e de uma dispensa da sua celebração comunitária.
3. «Nós, cristãos – explicou –, devemos crescer numa familiaridade que é pessoal, mas também comunitária.
Uma familiaridade sem comunidade, sem os sacramentos é perigosa, pode tornar-se uma familiaridade gnóstica, separada do povo de Deus».
4. De facto, as pessoas podem habituar-se a dispensar – ainda mais – a frequência da Casa comum dos cristãos.
Por isso, temos de fazer tudo para tornar bem claro que esta é uma situação de excepção, ditada por um drama de excepção suprema.
5. E pelos índices de visualização das celebrações pelas plataformas digitais, há um «alargamento» muito significativo das «assembleias».
É claro que o virtual não é o mesmo que o real. Mas, até por alguns contactos pessoais, noto que está a gerar-se uma «fome» e uma «sede» muito grandes de Deus que, a seu tempo, se poderá traduzir numa maior participação efectiva nas celebrações comunitárias.
6. O Cardeal D. António Marto sinalizou certeiramente que, por estes meios, também tem passado – e muito – o Espírito Santo.
Este, como sabemos, «sopra onde quer» (Jo 3, 8)
7. Nesta altura, o distanciamento e o isolamento constituem – a par da oração – as únicas «vacinas» disponíveis.
Assim sendo, temos de optimizar esta hora usando todos os meios para preparar o momento seguinte, quando Deus permitir que ele chegue.
8. Ninguém estava preparado para um cenário desta magnitude. Sem qualquer preparação, estamos a gerar – quase ao minuto – experiências que, há pouco mais de um mês, julgávamos inimagináveis.
E é bom que se reconheça que muitas dessas experiências têm o «selo» do Espírito Santo, tal é a criatividade e a ressonância que têm alcançado.
9. Que este tempo «monástico-digital» – como o qualificou o Cardeal D. Manuel Clemente – fecunde a acção evangelizadora.
O silêncio que nos tem inundado é, por exemplo, um património que deve ficar para calibrar as nossas vindouras intervenções.
10. Nós estamos em confinamento, mas a fé nunca está confinada. Cristo está vivo na vida das pessoas onde quer que elas estejam.
Transformemos esta enorme adversidade numa decisiva oportunidade!
Autor: Pe. João António Pinheiro Teixeira
Nós estamos em confinamento, mas a fé nunca está confinada

DM
28 abril 2020