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Nortadas: Lições a tirar

Por detrás de uma grande tragédia há sempre muita falta de prevenção; e, se costumamos dizer que mais vale prevenir do que remediar, nesta situação ou circunstância, porque não se preveniu, com remedeio não se chega a lado nenhum.

Estou a lembrar-me, por exemplo, da tragédia que ainda permanece na memória de todos da queda fatídica de parte da ponte sobre o rio Douro, em Entre- os-Rios, num princípio de noite, e que engoliu algumas dezenas de vidas humanas, como igualmente nos estão bem frescos na memória os diabólicos incêndios que assolaram o pais de norte a sul, neste verão, numa escalada monstruosa vitimando mais de uma centena de portugueses; ou ainda dos surtos de legionela que, já em tempos e ultimamente, atingiram populações do centro e doentes de um hospital da capital, respetivamente, com perda de algumas vidas.

E já nem falo sequer de outras tragédias, como acidentes rodoviários e de trabalho ou de homicídios em série que sempre vão ceifando, mutilando ou incapacitando diariamente seres humanos; porque, mesmo acontecendo dispersos e sem mediatismos exagerados, não escapam à designação genérica de tragédias.

Mas, então, porque é que tanta desgraça acontece e se sucede como fatalidade a que não somos capazes de escapar? Pois bem, se olharmos à nossa volta para o país que temos sido e continuamos teimosamente a ser, logo concluímos que pouco ou nada se previne, se planeia, se acautela; e naquela postura tão lusitana do deixa andar, do logo se vê, de que a culpa sempre tem de morrer solteira.

Temos efetivamente sido, por vezes, governados por políticos muito expeditos em improvisar, remediar, remendar, descartar responsabilidades e passar culpas; e, mormente, céleres em varrer para debaixo do tapete a incúria, a irresponsabilidade, a demagogia da sua ação governativa.

Depois, as reformas estruturais nos setores básicos da Administração Pública, de que são exemplo maior a Saúde, Educação, Justiça, Segurança Social e Regionalização ou as medidas preventivas e fiscalizadoras das atividades económicas e sociais, sejam públicas ou privadas, não se tomam e as práticas penalizadoras para quem prevarica ou não se cumprem ou não saem do papel; e, pior do que isto tudo, é o mau exemplo que dá o próprio Estado quando fecha os olhos, vira as costas, assobia para o lado concretamente no que à sua própria atividade preventiva e fiscalizadora diz respeito.

Pois bem, quando a desgraça bate à porta, a culpa é da imprevisibilidade, do acaso, das causas naturais; e, sobretudo, dos outros e nunca deles; e, então, o mais triste e dramático é não aprendermos nada com os próprios erros ou com as tragédias que nos acontecem e prosseguirmos como se não nos dissessem respeito; e, apenas, se vão tomando algumas medidas de emergência, se avançam com ações pontuais, se prometem recompensas, se fazem remedeios; e, depressa, após o foguetório mediático habitual de lamúrias, de boas intenções, de pedidos de desculpas e perdões, se vira a página, se esquece.

Claramente, é tempo de retirarmos do drama dos últimos incêndios esta óbvia lição: se continuarmos a ignorar a prevenção, a fiscalização e a punição, o país cada vez mais caminha para o total desgoverno e sua natural autodestruição; e de prestar atenção às palavras do presidente da República: é preciso tirar lições do que correu mal nos incêndios deste ano, de maneira a evitar que se repitam no futuro situações semelhantes de catástrofe.

E eu acrescento: que os políticos e governantes olhem com olhos de ver para a solidariedade espontânea, imediata e livre do povo anónimo para com o drama e sofrimento das vítimas de tamanha tragédia e dela retire lições de bem governar e bem servir; e sobretudo, de prevenir em vez de remediar.

Então, até de hoje a oito.


Autor: Dinis Salgado
DM

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15 novembro 2017