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No reino dos medos

Catarina Martins é muito mais viva que Jerónimo de Sousa e muito mais adaptável à governação. O PS deve preferir Catarina Martins em detrimento de Jerónimo de Sousa. Este mais ortodoxo e aquela mais versátil. O PCP está encurralado entre outros medos: o de ver voltar a direita ao poder e o de ver o PS não precisar do seu apoio na Assembleia da República. O BE sabe que se deixar de ter influência política corre o risco de implodir ou pelo menos voltar a desmembrar-se como já aconteceu no passado recente. São estes medos do PCP e do BE que faz com que a “geringonça”, parabéns ao seu padrinho Paulo Portas, não queira eleições antecipadas.

Lá vai geringonçando como pode, por vezes aos soluços. Com os pressupostos resultados de eleições antecipadas, o xadrez político pode ser diferente, por exemplo o PS prescindir do PCP ou quiçá dele e também do BE. O PS sabe disto mas tem medo; novamente o medo a ditar as opções políticas: tem medo de romper a coligação à esquerda porque sabe que seria responsabilizado  por ser o causador da instabilidade política; isso  costuma  ter um preço pesado nas eleições. António Costa é um político hábil e a sua proposta  de TSU não me parece, nem inocente nem inconsequente. Ele sabia que o BE e o PCP não o apoiariam e, ao contrário do que muitos pensam, sabia também que o PSD o não apoiaria. Logo estava aberta uma razão de fundo para se começar a reclamar uma solução de governo, como aliás fez de imediato, Assis.

E não me parece que esteja sozinho dentro do PS na ideia de  apanhar este pretexto para exigir eleições antecipadas. Só assim se compreende que o Governo não quisesse falar num plano B. Mas, perante a pressão dos parceiros da concertação social, a anuência ao PEC do PCP e do BE, António Costa imediatamente se amoldou, ficou calado e concordou com a substituição de uma coisa que era estrutural, a TSU, por uma coisa que era pontual, o PEC. Trocou-se o cão pelo gato. António Costa teve medo de ficar isolado, como ficou na votação parlamentar sobre a TSU. O plano duma rutura natural na atual esquerda foi tiro que lhe saiu pela culatra. Mas ficou o fermento.

António Costa é possivelmente o político que melhor sabe jogar no tabuleiro do nosso xadrez político. Joga em dimensão diferente dos outros; tem a certeza e não a intuição, tem o cálculo e não apenas o feeling político, tem a paciência do caçador furtivo e, por isso, é que se mantém num governo que tem mais escolhos que águas profundas. Há ainda um medo enorme de que algo dê certo; o medo de Passos Coelho: tem medo que as contas do estado batam certo, tem medo da popularidade de António Costa, tem medo da oposição dentro do seu partido, tem medo de ser desmentido pela política económica que adotou e , finalmente, tem medo que a esquerda liderada pelo PS lhe retire a governação do país por muito tempo.

Tem razão para ter medo? Penso sinceramente que só um inconsequente não teria medo de ver ruir aquilo em que acredita. Quem me parece sereno, mesmo tranquilo, no meio destes medos todos é o CDS  e Assunção Cristas porque igual a si mesmos trilham o caminho seguro dum partido de direita. Quem sabe o caminho nunca procura atalhos.


Autor: Paulo Fafe
DM

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6 fevereiro 2017