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Qual será o elemento primordial de tudo quanto existe?
O elemento primordial tanto poderia ser a terra (Xenófanes) como a água (Tales de Mileto), o ar (Anaxímanes), o fogo (Heraclito) e até o indeterminado (Anaximandro).
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Para São João, «no princípio, era o Verbo» (Jo 1,1). Foi por Ele que tudo foi feito (cf. Jo 1, 3).
Tendo em conta que o Verbo feita carne em Jesus (cf. Jo 1, 14) nos apresenta Deus como Amor (cf. Jo 3, 16; 1Jo 4, 8.16), então o elemento primordial de tudo quanto existe é o Amor.
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Acresce que o Amor, que está no princípio, nunca terá fim (cf. 1Cor 13, 13).
Assim sendo, porque é que há tanta falta de amor no ser humano, no mundo e na própria Igreja? Porque é que há tantos atropelos, tanta frieza, tanto egoísmo, tanta indiferença?
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Falta aquecer o coração com o amor da Palavra e com a palavra do Amor. Os discípulos que iam a caminho de Emaús reconheceram que Jesus fazia arder o coração quando explicava as Escrituras, (cf. Lc 24, 32).
Será que, hoje, a Igreja – perguntava o Papa Francisco em 2013 – ainda consegue aquecer o coração? Não haverá ainda muito gelo e bastante confinamento nos nossos corações?
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Ao teólogo e aos cristãos em geral – garante Olegário González de Cardedal – não basta a perspicácia da inteligência; é igualmente vital «a simplicidade do coração».
Uma inteligência que só pensa nem sequer inteligente é; pois pensa a vida não como ela é, mas como «pré-julga» que é.
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Com Xavier Zubiri aprendemos que uma inteligência apenas é «inteligente» quando também é «sentiente», isto é, quando sente.
O sentir é precisamente a «porta de entrada» da vida no entendimento. Pelo que uma inteligência que não sente fica encolhida e como que amputada e diminuída.
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É urgente pensar com o coração e não unicamente com o entendimento.
Acredito mais numa «inteligência cordial» do que numa «inteligência» meramente «conceptual».
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Acolhamos então o «Deus humaníssimo de Jesus» (Bartomeu Benássar) que «revoluciona» tudo: «dispersa os soberbos» (Lc 1, 51), «derruba os poderosos, exalta os humildes» (Lc 1, 52) e sacia os famintos (cf. Lc 53).
As revoluções falham porque se limitam a alterar as estruturas; Deus, porém, transforma os corações, levando o amor aos amigos e não excluindo tão-pouco os inimigos (cf. Lc 6, 27).
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A amizade também é amor; também é, segundo Santo Agostinho, «querer que o outro seja».
Quando oiço dizer: «Somos “só” amigos», apresso-me a objectar: «Só? Já não é muito? Não devia haver senão amizade entre as pessoas?»
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O mistério do Natal é o mais poderoso estimulante para realizar o «sonho» de Deus.
Tal «sonho» é fazer do mundo uma imensa «filadélfia», isto é, um povo «só» de «amigos». E sempre de «irmãos»!
Autor: Pe. João António Pinheiro Teixeira