Assinala-se hoje, 9 de maio, o Dia da Europa para celebrar a Declaração Schuman, manifesto lançado neste dia, em 1950, pelo estadista francês de ascendência luxemburguesa, de seu nome próprio Robert, propondo a criação de uma entidade supranacional que culminou com a fundação da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço. O grande objetivo dos fundadores desta comunidade, que está na génese da atual União Europeia (EU), era como é do conhecimento geral construir uma Europa em paz, próspera e unida.
Para comemorar o Dia da Europa, as diversas instituições europeias organizam vários eventos para dar a conhecer melhor a UE. Por certo, após o desfecho das eleições francesas do último domingo que culminou com a vitória esmagadora de Emmanuel Macron, o mais europeísta dos candidatos que disputaram a presidência, estes festejos serão vividos com grande satisfação e redobrada alegria, sobretudo pela derrota de Marine Le Pen que apostava na destruição do projeto europeu.
Na realidade, sessenta anos passados, a Europa vive tempos conturbados e permanece numa encruzilhada parecendo ignorar a eclosão de nacionalismos adormecidos e a explosão de movimentos racistas e xenófobos que se alimentam principalmente dos desenraizados, dos pobres e de quantos sofreram na carne as consequências da crise económica iniciada em 2008. Por isso, partidos como a Frente Nacional em França ou o Partido da Lei e Justiça, que é poder na Polónia, lograram terreno propício para alcançarem a expressão que é conhecida.
A eleição de Emmanuel Macron para presidente da república francesa trouxe um alívio a quantos temiam pelo fim da EU como hoje a conhecemos. De facto, a hipotética eleição da líder da Frente Nacional para presidir aos destinos da França levaria ao isolamento deste grande país e seria um golpe de morte no projeto europeu. No entanto, embora mais serenados, é tempo de quantos aspiram pelo progresso e pela manutenção da paz na Europa não se deixarem adormecer. O novo inquilino do Palácio do Eliseu, para além de ter de disputar um novo ato eleitoral para a Assembleia Nacional no próximo mês de junho, tem à sua frente uma tarefa hercúlea.
Dos resultados dessa próxima eleição dependerá a formação do governo que terá por missão pôr em execução o programa enunciado na campanha eleitoral. Logo aí, seja qual for o resultado, as dificuldades serão imensas, tendo em conta a oposição da maioria dos sindicatos franceses que têm grande poder de mobilização e não podem ser desprezados.
E se não conseguir uma maioria estável para governar e fazer as mudanças que tanto preconiza? O seu antecessor, François Hollande, dispunha dessa maioria e foi o que todos pudemos testemunhar!
Se a nível interno Emmanuel Macron não terá vida fácil, as dificuldades no exterior não serão menores!
O recém-eleito presidente da República Francesa disse durante a campanha considerar importante haver significativas mudanças na EU para que o seu governo, sediado em Bruxelas, não seja apenas uma enorme organização burocrática que tudo controla e esmaga. De igual modo, mencionou a necessidade de reforçar a democracia nos países membros e, principalmente, afirmou apostar no fortalecimento do eixo franco-alemão na construção europeia. Contudo, terá de esperar pelas eleições alemãs de setembro para saber quem terá por interlocutor e poder pôr em marcha os seus propósitos.
No Dia da Europa, também chamado da União Europeia, mais do que celebrar um data que nos trouxe desenvolvimento, progresso e paz durante seis décadas, é necessário não afrouxar os alertas e manter a vigilância sobre os perigos que, apesar de momentaneamente afastados, não irão desaparecer.
A derrota de Marine Le Pen para presidente de um grande país como a França é apenas uma vitória de muitas batalhas que é preciso ganhar.
Autor: J. M. Gonçalves de Oliveira