Quando o Santo Padre, o Papa Francisco, decide dedicar o ano corrente à protecção de S. José, certamente que o faz, tendo em conta a personalidade deste homem humilde, que, ainda que descendente de David, não tinha bens de fortuna avultados, nem sequer era um personagem que se evidenciava, entre as do seu tempo, como alguém importante.
A sua relevância não se faria notar, se Deus o não tivesse encarregado de ser o chefe de uma família, a mais distinguida entre todas as do nosso mundo. Efectivamente, S. José teve de chefiar um modesto lar principalmente em Nazaré, depois de ter vivido de um modo efémero e passageiro, em Belém e no Egipto. Mas como companheiros do seu dia a dia, a sua esposa, Maria, era a Mãe de Deus; e o seu Filho, Jesus Cristo, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade encarnada.
Aparentemente, naquele modesto recanto familiar, o dia a dia passava-se sem chamar a atenção de ninguém, pois era muito semelhante a todos aqueles, que nesse tempo, viviam do trabalho dum artesão, que trazia para casa, como fruto do seu labor, o resultado do seu esforço profissional. Com ele alimentava e vestia as pessoas que tinha a seu cargo. Mas esse chefe de família, se bem que estivesse ligado a Nazaré por laços muito fortes – aí conheceu a sua futura esposa e as circunstâncias em que ela concebeu o seu Filho –, não vivia aí por mero acaso, mas depois de uma decisão vigorosa, que tomou pouco depois do regresso do Egipto, quando, em princípio, pensava ser um morador de Belém, que era uma cidade que, pelo seu tamanho e importância, lhe dava melhores condições laborais.
José foi para o Egipto por inspiração divina. E de lá regressou pela mesma razão. Ao pensar em instalar-se em Belém (alguns especialistas sugerem que foi a sua cidade natal, onde deveria ter familiares e amigos), é capaz de ter recorrido, numa primeira instância, ao concurso e conselho de alguns deles para, eventualmente, voltar a fazer daquele lugar a sua residência e a de Jesus e de Maria.
Belém apresentava-se, assim, como o futuro próximo da sua vida e da família a seu cargo. O nascimento de Jesus, nesse lugar, alguns anos atrás, apesar das condições algo difíceis em que ocorreu, levaram-no, decerto, a ponderar que era ali que deveria orientar a sua vida. O tirano que o obrigou a fugir para o Egipto já não se encontrava no poder, porque tinha morrido. Belém dava melhores oportunidades de exercer a sua profissão e de instalar com algum conforto Maria e Jesus.
Tudo isto ponderava, pensando na melhor hipótese. Sentia a responsabilidade de não só sustentar, mas de educar, como pai legal (o que lhe dava as mesmas obrigações dum pai natural) o filho de Maria, do qual não desconhecia a identidade e a forma miraculosa como foi concebido no seio da sua esposa. Provavelmente, terá pedido o conselho da Virgem Santíssima, não só pela delicadeza e boa vontade com que sempre secundava as decisões do seu marido, mas por sentir que a sua opinião era a de quem Deus escolhera para ser a sua Mãe, isto é, sempre muito ponderada e atendendo à vontade divina.
Tudo isto o encaminhava para uma solução: ficar em Belém. Mas alguém lhe diz que quem governa agora aquela cidade e a região dela dependente é um filho de Herodes, de nome Arquelau. Não é diferente do pai, em matéria de crueldade e despotismo. Manteve-se nove anos como governante, mas foi banido por César, que o obrigou a exilar-se em Viena. José começa a duvidar de que seja o mais prudente a solução em que meditara e diz-nos o Evangelho : “Teve medo de ir para lá” (Mt. 2, 22).
Humanamente, estava disposto a proceder do melhor modo. A responsabilidade que Deus lhe confiara era fortíssima e qualquer erro ou hesitação poderiam tornar-se fatais. O receio que sentiu foi um aviso divino, que o incitava à prudência e à ponderação. Por isso, quando, em sonhos, é advertido dos perigos que corria, não hesita: “(...) retirou-se para a região da Galileia e foi morar numa cidade chamada Nazaré (Mt. 2, 22-23).
Deus sempre ampara quem quer fazer a sua vontade. Se necessário, como neste caso, a sua graça pode agir duma forma algo extraordinária. Mas sempre conta com a colaboração do homem. Ele é sua imagem e semelhança (Gén 1, 26) por criação. Por isso, as suas acções devem ser livres, não forçadas. S. José não agiu de maneira diferente. Fez o que devia, cumprindo um querer divino, mas arcando com toda a responsabilidade que a ida para Nazaré representava.
Autor: Pe. Rui Rosas da Silva