No entanto, de todos os defeitos que me apercebi nos outros, o que mais me constrangeu e constrange, são os ingratos, os avaros e os incompetentes. Estes, talvez porque sendo somente artistas/consertadores de coisas de uso doméstico, exercem por influências serviços, ou ocupação de lugares que só os devidamente habilitados são capazes. Razão porque o povo afirma que a democracia é apenas fazer a substituição de alguns avaros, por vários milhares de incompetentes.
Ninguém é perfeito, como lembrou há dias o Papa Francisco: “Não temos pais perfeitos, não somos perfeitos, não temos filhos perfeitos. Temos queixas uns dos outros” - dizia. Ninguém é perfeito, mas… é obrigatório procurar diariamente sê-lo.
E se os defeitos ou os erros de qualquer homem podem ser banais e circunstanciais… grande mossa, mesmo assim podem causar numa comunidade se, quem os praticou, não teve em mente o poder ou o lugar que ocupava, que tinha.
Sendo certo que ninguém é perfeito, a experiência de vida, a inteligência dos capazes e o respeito que tem de se ter pelos outros… obriga a que todos os cidadãos em lugares públicos ou políticos não passem o tempo a errar e a denunciarem-lhe defeitos.
Vejamos: na política há homens sérios e outros não; há-os também com alguma capacidade, mas muitos mais, não a têm. No país que somos, os capazes, sérios e trabalhadores não enveredam pela política ou lugares políticos, salvo algumas excepções, porque, fora dessa chafurdice vivem mais alegres e felizes. No nosso caso, repito – e salvo uma vez mais as devidas excepções – só os avaros, os frustrados e os menos capazes roçam, besuntando, as paredes e as esquinas dos partidos políticos, à espera da morte ou da desgraça de alguém, para se lançarem no assalto ao poder.
Recordem-se as estratégias que utilizou António Costa para ser primeiro-ministro de Portugal: programou o derrube do seu camarada António Seguro para liderar o Partido e, mais tarde, fez entendimentos com outros partidos, marimbando-se para os resultados nas urnas; José Sócrates, que foi o pior primeiro-ministro de Portugal, não vive e não respira na mentira da sua vida política e não continua a envenenar as fontes da República e de uma sã democracia? Pedro Passos Coelho não foi um subserviente do exterior e não aumentou o número de pobres em Portugal, sobretudo pobres escondidos que o país continua a enxergar? Não foi Mário Soares o líder político mais caro da Nação, dando ao país como “bónus” o Fundo Monetário Internacional no seu Governo?
Ninguém é perfeito, mas… como pode um povo, um país dizer-se em vivência democrática, se a realidade falha; se os defeitos persistem nos políticos anos e anos sem que os destruam; se matam a esperança e distribuem negras noites para pensar-se no futuro e, se o povo deprecia esses permanentes possuidores de defeitos…, como podem governar, como serão capazes de não ouvir os gritos da sociedade, a dor dos fragilizados e a frustração dos indiferentes?
Entendo que numa real democracia, entre outras regras, tem de haver quem fale, quem escreva em permanente desconfiança – desconfiança inteligente – em relação aos governantes, com crítica construtiva, mas, que jamais deve parar, uma vez que em democracia todas as entidades oficiais têm de sofrer críticas, se erros cometem, se defeitos têm, se injustiças sociais semeiam.
O povo sabe e diz que criticar é fácil, mas que não é fácil executar. Salazar, no interior dos imóveis públicos, tinha a célebre frase: “se soubesses o que custa governar, gostarias mais de obedecer”. Estamos noutros tempos e os defensores da sã democracia terão de ter consciência de que não existem soluções “milagreiras” (definitivas) para todos os problemas sociais, dado as reformas nunca estarem completas e, claro, ninguém é perfeito. Mas…
(O autor não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico).
Autor: Artur Soares