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Nem «turismofobia» nem «turismolatria»

  1. Comecemos por falar de pessoas. Porque, antes de qualquer titularidade que possam transportar, é como pessoas que todos devem ser olhados e tratados. Por vezes, dá a impressão de que certas titularidades conferem uma tal amplitude de direitos que «derretem» o mais leve dever.

  2. É o caso, actualmente, de alguns turistas. A tendência é para majorar de tal modo as vantagens da sua presença que quase esquecemos os deveres que também contraem.

  3. Não podem pensar unicamente nos seus direitos. Também devem ter em conta os direitos dos outros. Além das pessoas que visitam, há igualmente as pessoas que são visitadas. E estas não são apenas portadoras de deveres. Há que cuidar também dos direitos que lhes assistem.

  4. Só numa interacção entre direitos e deveres se formará uma saudável cultura de encontro. A uns não pode faltar o dever da hospitalidade. Mas a outros não há-de falhar o (igualmente) indeclinável dever do respeito.

  5. Nem sempre isso acontece, porém. É por isso que tendemos a oscilar entre uma indefensável «turismofobia» e uma desmesurada «turismolatria».

  6. Não é curial tratar com rudeza quem nos procura. Mas será aceitável que os visitantes não respeitem a natureza dos lugares e os hábitos das pessoas visitadas? Tudo se resolveria se o bom senso imperasse e o sentido do outro prevalecesse. Estamos, todavia, a distanciar-nos dos mais elementares preceitos do acolhimento e da urbanidade.

  7. Parece que, quando nos «vestimos» de turistas, deixamos de ter deveres. Parece que a nada somos obrigados e que tudo nos é permitido. Os lugares sagrados não são imunes aos efeitos desta nova situação.

  8. Há quem entre de qualquer maneira. Há quem fale – coma e beba – como cá fora. Há quem não respeite minimamente as indicações acerca de como estar nas celebrações. É claro que as pessoas têm o direito de entrar nos espaços sagrados. Desde, contudo, que os respeitem.

  9. O problema é que há quem se passeie pelo interior do templo enquanto decorre a Eucaristia. Há quem não se iniba de tornar audível a sua voz quando se pede silêncio. Há até quem volte as costas ao altar quando o sacerdote está a celebrar. Não é por mal. Mas estará bem?

  10. A Casa de Deus será para tudo? Não tratemos aquilo que é para todos como se fosse só nosso. O egocentrismo não é caminho e a autocracia nunca será solução. Portemo-nos como visitantes e adoradores. Não como donos e senhores!


Autor: Pe. João António Pinheiro Teixeira
DM

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6 agosto 2019