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Comecemos por falar de pessoas. Porque, antes de qualquer titularidade que possam transportar, é como pessoas que todos devem ser olhados e tratados. Por vezes, dá a impressão de que certas titularidades conferem uma tal amplitude de direitos que «derretem» o mais leve dever.
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É o caso, actualmente, de alguns turistas. A tendência é para majorar de tal modo as vantagens da sua presença que quase esquecemos os deveres que também contraem.
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Não podem pensar unicamente nos seus direitos. Também devem ter em conta os direitos dos outros. Além das pessoas que visitam, há igualmente as pessoas que são visitadas. E estas não são apenas portadoras de deveres. Há que cuidar também dos direitos que lhes assistem.
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Só numa interacção entre direitos e deveres se formará uma saudável cultura de encontro. A uns não pode faltar o dever da hospitalidade. Mas a outros não há-de falhar o (igualmente) indeclinável dever do respeito.
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Nem sempre isso acontece, porém. É por isso que tendemos a oscilar entre uma indefensável «turismofobia» e uma desmesurada «turismolatria».
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Não é curial tratar com rudeza quem nos procura. Mas será aceitável que os visitantes não respeitem a natureza dos lugares e os hábitos das pessoas visitadas? Tudo se resolveria se o bom senso imperasse e o sentido do outro prevalecesse. Estamos, todavia, a distanciar-nos dos mais elementares preceitos do acolhimento e da urbanidade.
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Parece que, quando nos «vestimos» de turistas, deixamos de ter deveres. Parece que a nada somos obrigados e que tudo nos é permitido. Os lugares sagrados não são imunes aos efeitos desta nova situação.
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Há quem entre de qualquer maneira. Há quem fale – coma e beba – como cá fora. Há quem não respeite minimamente as indicações acerca de como estar nas celebrações. É claro que as pessoas têm o direito de entrar nos espaços sagrados. Desde, contudo, que os respeitem.
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O problema é que há quem se passeie pelo interior do templo enquanto decorre a Eucaristia. Há quem não se iniba de tornar audível a sua voz quando se pede silêncio. Há até quem volte as costas ao altar quando o sacerdote está a celebrar. Não é por mal. Mas estará bem?
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A Casa de Deus será para tudo? Não tratemos aquilo que é para todos como se fosse só nosso. O egocentrismo não é caminho e a autocracia nunca será solução. Portemo-nos como visitantes e adoradores. Não como donos e senhores!
Autor: Pe. João António Pinheiro Teixeira