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Nem oito nem oitenta

Num curto espaço de tempo, o país viveu o período de eleições autárquicas e vive agora o momento, também importante, de discutir o Orçamento do Estado para o próximo ano. Sendo embora momentos diferentes e distintos, implicam com a vida de todos nós e por isso são realmente muito importantes. Se o poder local e seus eleitos começam já a pensar na forma de cumprir com o prometido em campanha, sendo aqui importante que os cidadãos estejam atentos ao que não vai sendo concretizado, no Orçamento do Estado tentamos gerir a riqueza existente e produzida, preocupados com a distribuição de verbas entre setores fundamentais à administração e gestão do país, num contexto de limitações que obrigam a rigor e austeridade. É pois neste cenário que verificamos algumas exigências supostamente justas de quem pretende ver satisfeitos os seus direitos, mas que fazendo fé no que tem sido publicitado, parecem fora do contexto económico e social em que vivemos. Exigir aumentos mensais de 400 ou 500 euros, num país com salário mínimo pouco superior, depois de durante anos terem obedecido a um duro programa de austeridade, entretanto aliviado, sem ter em conta que a economia e riqueza ainda são apenas sinais positivos, parece não ser a melhor maneira de, com racionalidade gerir as questões. Por outro lado, estamos a referir-nos apenas a uns milhares de cidadãos com poder reivindicativo, esquecendo os milhões que sendo embora a maioria, continuam sem capacidade de reivindicar ou porque trabalham no setor privado ou são pensionistas. Estamos também aqui ainda a falar de cidadãos com baixos rendimentos de trabalho ou pensões, estamos a falar dessa outra realidade que sobrevive com rendimentos reduzidos ou inferiores a 1000 euros que, mesmo com novas políticas, ainda permanecem sem aumentos. Portugal continua a ter emprego precário, sendo certo que a legislação laboral, outrora benéfica para o trabalhador, foi sofrendo alterações que diminuíram os seus direitos e garantias. É neste cenário que se pretende o Orçamento do Estado seja justo e capaz de combater desigualdades, que embora do agrado de alguns, traduz injustiça e instabilidade social. O país não pode de repente parecer o que não é. Continuamos demasiado pequenos e pobres, com uma economia débil e endividados. Ignorar a realidade terá certamente custos elevados no futuro. Não podemos viver apenas de sinais, precisamos de certezas, sendo sensato agir com serenidade. Os políticos gostam de legislar, mas as consequências atingem sempre os cidadãos e o país. Um país pobre e endividado não pode dividir a pouca riqueza existente apenas por alguns. Tem de pensar no todo, nomeadamente nos que menos ganham. Esta política, embora elementar, parece ter sido ignorada nos últimos anos, perante o poder reivindicativo de alguns.
Autor: J. Carlos Queiroz
DM

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4 novembro 2017