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Necessidades pastorais de boa doutrina

“Ai de vós! Não digo eu, mas Jesus. Ai de vós que explorais as pessoas, que explorais o trabalho, que pagais de maneira informal, que não pagais a Segurança Social, que não dais férias. Ai de vós! Fazer “economias” e defraudar o que se deve pagar, o salário. É pecado, é pecado!” Estas palavras foram pronunciadas recentemente em Itália, de forma clara, pelo Papa Francisco na homilia da memória de Nossa Senhora Auxiliadora, tendo como texto inspirador um versículo da epístola de S. Tiago, “Ai de vós, os ricos”. A sociedade actual, entre a qual se contam os fiéis da Igreja, denota particular sensibilidade para este tipo de chamada de atenção, porque os pecados de carácter social, com reflexos económicos muito chamativos, provocam injustiças gritantes e situações de exploração nojentas. Como alguém comentava, “tais pecados não são próprios duma sociedade desenvolvida e esclarecida”. Mas eles lá estão, como esterco moral muitas vezes patente, ainda que camuflados, para que quem deles se serve não seja incomodado. E é louvável este sentido crítico, embora a nossa sociedade, mesmo entre os fiéis da Igreja, tenha uma insensibilidade quase cega, para outro tipo de infracções pecaminosas. Infelizmente, são muitas, que se evidenciam na forma de actuar e de julgar das pessoas. Por exemplo, nas relações laborais. Hoje em dia, em muitas empresas e repartições, elas são profundamente desumanas, porque predomina a competitividade a todo o custo, sobre a camaradagem e a convivência humana aberta e confiante. O colega de trabalho, mais do que o companheiro do dia a dia, é o rival, de quem se desconfia por se temer que nos pregue uma rasteira ou, sem olhar a meios, querer, à viva força, trepar na carreira, calcando quem a sua imaginação vislumbre como um concorrente dos seus intentos. Este ambiente gera o desconforto, a desconfiança, a aspereza de atitudes, um receio contínuo de se ser derrotado ou posto de parte. Um bom cristão deve lutar por alcançar no seu ambiente laboral um clima de paz e de tranquilidade que beneficie a qualidade do trabalho a desenvolver e, sobretudo, que leve as pessoas a respeitar-se como tal e onde uma virtude – a caridade – transforme os outros em próximos e não em temíveis adversários. Mas se isto acontece na sociedade civil, que, nos nossos dias, perdeu acentuadamente o norte cristão dos costumes e das relações humanas, manifesta-se também entre as pessoas que aparecem nas igrejas. Imaginemos uma cerimónia de matrimónio, que inclui a celebração da Santa Missa. A noiva, como sempre, chega meia hora atrasada. Nesses minutos de espera, os participantes falam descaradamente uns com os outros, esquecendo-se que estão numa igreja e, sobretudo, que, no Sacrário, se encontra Jesus Cristo, com o seu Corpo, Alma e Divindade. O celebrante, a uma certa altura, perante tanto ruído, teve de chamar a atenção, com delicada firmeza, explicando que uma Igreja não é um local de troca de impressões tão acentuada. Faz-se um silêncio respeitador, mas que é interrompido, bruscamente, por uma nova convidada, que, mal abre a porta lateral de entrada, vê uma amiga sentada num dos bancos da nave e lhe grita: ”Fafá, também vieste? Que giro!” A sua voz altissonante não quebrou o silêncio dos participantes. Pelo que a senhora se sentiu encavacada. E sentou-se sorrateiramente, deixando a Fafá em paz. Por fim, chega a nubente que é crivada de sorrisos e de fotografias. A Missa começa. Nenhuma novidade. No momento da comunhão – além dos noivos – aparece uma multidão de convidados a abeirar-se da mesa eucarística. Num primeiro momento, o celebrante fica satisfeito, embora lhe pareça estranho uma tão grande procura deste Sacramento. Enfim, os noivos casaram, assinaram os papéis da praxe no local adequado, o sacerdote felicitou-os e, ao despedir-se foi abordado por um dos convidados, que, confidencialmente, lhe manifestou a estranheza por ter presenciado tanta gente a comungar. E explicava: “Eu conheço-os a todos. Sou tio da noiva. Muitos não praticam, outros vivem em união de facto, outros já vão no segundo casamento civil... Como é isto, senhor Padre?” O senhor Padre não lhe pôde responder nada. E convenceu-se de que era necessário e urgente um esclarecimento sobre quem pode e deve comungar, explicando que se requer o estado de graça e que existe um sacramento, o da Penitência, instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo, para que os nossos pecados, sobretudo os que se chamam habitualmente mortais, sejam devidamente perdoados. Quando ia a sair, foi abordado pela amiga da Fafá. Pediu-lhe desculpa, explicando: “Senhor Padre, eu só venho à Igreja, quando se casa alguém meu conhecido. E nunca vi uma igreja com a gente tão calada... E gosta tanto de comungar...!”  
Autor: Pe. Rui Rosas da Silva
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3 junho 2018