Não há muito tempo, um muçulmano importante, cidadão dum país europeu de tradição católica, comentava que, perante o índice de natalidade dos casais cristãos, extremamente reduzido (de notar que o de Portugal é mais baixo ainda do que o dessa terra) e o das mulheres seguidoras de Maomé que aí vivem, muitíssimo superior, fazia prever, dentro de algumas dezenas de anos, uma mudança radical nos costumes e na prática religiosa da população.
Para bom entendedor, previa que, se não houvesse alterações de atitudes dos cristãos em relação á fertilidade humana, essa nação seria, num futuro não muito longínquo, de maioria muçulmana que coabitaria com uma minoria católica.
Há poucos dias, uma senhora entrevistada ocasionalmente num dos nossos canais televisivos, dizia que antigamente era frequente encontrar casais portugueses com um alfobre considerável de filhos. Mas que, na actualidade, as mulheres apenas optavam por ter um filho,... e... e...!, acrescentava, sorridente, como se esta realidade fosse irreversível.
O panorama no nosso país, em relação á natalidade, é um grande problema, se não o maior com que na actualidade se enfrenta esta “praia à beira-mar plantada”, se quer continuar a ser o que é, desde que D. Afonso Henriques a fundou. Ao longo dos quase nove séculos da sua existência superou crises muito complexas: lembremos apenas as de 1383-1385 e da dinastia filipina, deposta em 1640.
O que agora está em causa é a sua manutenção como uma comunidade coesa e sadia, onde as gerações se propagam normalmente, de acordo com o que é natural numa sociedade: que haja fecundidade geracional e não um envelhecimento galopante, que apaga o futuro.
Vê-se que os nossos dirigentes estão preocupados com o assunto. Tanto mais que os casais que já têm um filho não pensam num segundo, na sua maioria. E a onda de divórcios, separações e uniões de facto não se tem mostrado, como era de prever, favorável à fecundidade. Antes pelo contrário.
Por outras palavras. A nossa legislação favorece todas as situações em que a fecundidade dum casal é sempre considerada como uma questão secundária ou acidental. Importa a união de duas pessoas – já nem sequer falamos daquelas em que a natureza humana não pode ser fecunda, porque entre dois seres do mesmo sexo não existe a mínima capacidade de procriar –, que se dêem bem, e só enquanto se dêem bem, ou só enquanto queiram viver em conjunto. Isto não convida à existência de uma família estável e ao nascimento de filhos.
Pelo contrário. É factor de muitos problemas de estabilidade emocional entre as crianças geradas, que por vezes nem sabem quem é o pai, ou que se encontram com o pai de vez em quando, segundo determina a legislação, que vêem a sua mãe mudar de novo companheiro de tempos a tempos, ou a viver isolada como se fosse uma viúva, porque o pai foge com facilidade às suas responsabilidades, determinando idas e vindas a tribunal, sentenças que não se chegam a cumprir-, ou a cumprir com muitas lacunas, etc.. Neste pandemónio de atitudes e de grande irresponsabilidade familiar, os resultados estão à vista: temos uma das mais baixas natalidades da Europa.
De facto, quem embarca nesta situação de instabilidade e de falta de constância de compromissos, como pode dar origem a uma família fecunda e normal? É uma hipótese longínqua e muito desfavorável, tanto mais que se uma mulher, no seu trabalho, aumenta com repetitividade natural a sua descendência, pode ser considerada uma oportunista das licenças de parto, que não tem consideração pelas suas colegas de ofício, obrigadas a aguentar os seus afazeres e mais os dela durante a sua ausência facultada pela lei.
No programa televisivo que se referiu, indicava-se que uma medida fomentadora da natalidade era criar mais infantários. Perfeitamente de acordo. Mas primeiro é preciso encontrar crianças que os venham a ocupar.
Autor: Pe. Rui Rosas da Silva