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Natalidade e Ensino

Vivemos num país onde a natalidade, como é sabido, deixa muito a desejar. Desta questão já se pronunciaram membros do actual Governo. Efectivamente, Portugal é um país em que a pirâmide da idade apresenta valores muito fracos e perspectivas cada vez mais desalentadoras. Por parte do Ministério da Educação, as medidas para atender a este problema tão crucial, ou não existem ou não se notam. Faz-se a distribuição de preservativos nas escolas para evitar gestações indesejadas, diminui-se o número de alunos por turma, apresentam-se resultados de aproveitamento escolar muito duvidosos, etc. Ou seja, há uma política de acção sui generis e quer-se, a todo o custo, apresentar um panorama pedagógico salutar. Quando se fala com professores, verifica-se que alguns abandonam o ensino público por esgotamento ou por estarem fartos de dedicarem, sem resultados de melhoria, uma boa parte do tempo de uma aula a procurar manter os alunos disciplinados, a fim de poderem aprender alguma coisa (um dado da OCDE indica que 17,5% do tempo das aulas é gasto em preenchimentos burocráticos e em manter a disciplina ; ou seja, numa aula de 50 m, 9 m são utilizados para fins extra-pedagógicos. Parece que o número de jovens por turma, 15, vai facilitar a aprendizagem. Para isso, são precisos mais professores. Como há cada vez menos alunos, porque os nascimentos, infelizmente, são escassos, o Estado encontra nesta sua diminuição por sala uma forma de, por agora, empregar mais mestres. E como a fonte de rendimentos é o bolso de todos os portugueses, geram-se ou agravam-se os impostos sem cerimónia. Recordo-me, na minha juventude, de ter sido o número 34 duma sala de aulas. Creio que, ao todo, somávamos 40. Ninguém se queixava da “multidão” de discentes aí congregados, e a verdade é que havia uma boa aprendizagem, porque também a disciplina comportamental que exigia era robusta, isto é, adequada à forma e ao ambiente que a pedagogia requer. Mas não havia professores que eram “gozados”? É verdade, mas excepcionalmente. E os alunos que o faziam, tinham consciência de que podiam ser penalizados. Agora, queixam-se os professores de que se um aluno se encontra, descaradamente, a ver o seu telemóvel durante a aula, chamar-lhe a atenção é o mesmo que nada. E muito menos mandá-lo sair, porque se regozijam com o facto, porque vão mais descansados para o recreio ou para o psicólogo escolar, no sentido de estudar o seu caso. Depois, o professor pode ser chamado ao director da escola, que lhe recomenda paciência e tente manter os alunos bem atentos, compreendendo as suas dificuldades. Dar uma nota negativa ou “chumbar”, eis que se exige do professor uma prosa tão complicada, que se torna mais fácil arranjar motivos “prico-pedagógicos” que lhe conceda a nota positiva ou a aprovação. É uma forma de evitar aborrecimentos indesejáveis e, ao que consta, inúteis e tempestuosos. Natalidade deficiente, turmas mais pequenas, mais professores empregados para as salas de aulas com um número de alunos diminuto, maiores custos do ensino público, que todos nós devemos ou somos obrigados a pagar. Mas nem tudo está tão mau por esse mundo fora. Num dia desta semana, na minha condição de sacerdote, tive oportunidade de concelebrar numa missa multitudinária, na festa litúrgica de um conhecido santo dos nossos dias. No final, ao sair, deparei com um espectáculo que me comoveu e me recordou a minha condição de filho duma família numerosa. Havia vários casais, que conversavam amigavelmente entre si. Ao seu redor, a filharada, muito abundante, brincava, de acordo com a sua idade, fazendo a algazarra do costume. Um mãe bastante nova tinha ao colo o último rebento, salvo o erro o terceiro, nascido há pouco tempo. Um amigo, preocupado com as correrias dum seu rapaz, dizia-me: “Este meu filho, onde vai, arranja sempre zaragatas”. Era o quarto de sete. Mais um amigo, com a esposa, e mais os seus cinco descendentes, cumprimentou-me alegremente. Outro pai, meu conhecido, também contava uma mão cheia de herdeiros. Mas, como centro de atenções não procurada daquela multidão tão simpática, reconheci uma mãe, sempre sorridente, que não tinha trazido até ali os seus nove filhos, porque alguns estavam em exames noutras localidades. Disse com os meus botões: “Deus sabe mais. O mundo não se acaba!”
Autor: Pe. Rui Rosas da Silva
DM

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27 julho 2019