Já estamos em dezembro. É verdade. E o ano passou tão depressa, não foi? De repente, o Carnaval, a Páscoa, os santos populares e as férias de verão já ficaram para trás e estamos novamente muito próximos de um novo Natal: o de 2021.
Há cerca de um ano, também neste espaço, estávamos a refletir sobre o Natal de 2020. Um Natal diferente, dominado pela pandemia da Covid-19.
De facto, sendo esta a festa que simboliza a família, a oportunidade da reconciliação e da renovação, da partilha e da solidariedade, num ritual que se repete há mais de dois mil anos, já que, para além da nossa tradição cristã, coincide com o solstício de inverno, vai voltar, à semelhança do ano passado, a ser celebrado sob o signo da incerteza, da contenção e, muito provavelmente, de regresso a um confinamento social mais apertado.
Nas nossas curtas memórias, subsiste ainda muito viva a recordação do Natal de 2020 vivido em plena pandemia, num recolhimento forçado, celebrado de forma muito solitária, que nos afasta dos rituais de festa a que estávamos habituados e que julgávamos, erradamente, plenamente conquistados e garantidos, de tão repetidos e banais.
De facto, não é assim e, embora tenhamos tido essa sorte, muitos outros natais houve, no passado, em que muitas pessoas, famílias, sociedades em geral os vivenciaram com fome, tristeza, mergulhadas na guerra ou sob as consequências de uma catástrofe natural. Por exemplo, neste preciso instante os habitantes da ilha de La Palma, nas Canárias, para além da pandemia, sofrem por causa da erupção do vulcão Cumbre Vieja.
Depois de uma melhoria significativa ocorrida um pouco por esse mundo fora, fruto das campanhas de vacinação (que no caso português, obtiveram felizmente, enorme adesão popular), mas também das medidas de confinamento social e, que, porventura também contou com a colaboração do tempo mais quente e seco do verão, aí temos novamente as nuvens ameaçadoras do ressurgimento da pandemia, visível no aumento do número de infetados, de mortes e de uma nova variante do vírus (Ómicron) reportada pela África do Sul à Organização Mundial de Saúde (OMS) no passado dia 24 de novembro. Esta variante, de que se sabe ainda muito pouco, está, contudo, conotada com um maior poder infecioso, mas a gravidade da doença poderá ser menor.
Depois de tanto esforço, de tanto sacrifício, de tantas medidas de isolamento e de confinamento social, de tanto dinheiro gasto no combate ao vírus, afinal o mesmo não nos deixa e está de volta para nos atormentar e estragar o Natal?
Parece que sim. Contudo, não poemos entrar em desespero. Há que ter paciência. Paciência é mesmo o estado de alma que devemos procurar manter.
Por um lado, as elevadas taxas de vacinação que conseguimos no nosso país, parecem dar garantias de que os efeitos mais graves da doença ou mesmo a morte conseguem ser evitados na maior parte dos casos.
Por outro, as assimetrias de desenvolvimento entre os diversos países e regiões do globo, com diferentes políticas, envolvimento e investimento no combate à pandemia fazem com que, num mundo globalizado, em permanente contacto, sejas muito difícil evitar estas reviravoltas. Ou seja, a menos que a Natureza nos surpreenda com mais qualquer coisa, ninguém pense que o problema se consegue combater à escala de uma nação, de uma região (por exemplo a União Europeia), ou mesmo de um continente. Se o combate à pandemia não constituir um esforço à escala global, só mesmo por mera sorte, devido a um capricho da Natureza, é que podemos esperar pelo fim da pandemia.
Até lá teremos que continuar alertas e fazer tudo o que estiver ao nosso alcance humano, seja do ponto de vista dos comportamentos sociais, seja dos avanços na área da saúde, para tentar dominar o vírus.
Autor: Fernando Viana