No próximo dia 19 de Março, neste ano calha a uma segunda-feira, a Igreja celebra a solenidade de S. José. E completa uma faceta fundamental deste santo – foi um operário –, quando, no Dia do Trabalhador, 1.º de Maio, o apresenta sobre a faceta de homem de trabalho. Como se afere de alguns textos dos primeiros séculos, foi artesão e talvez carpinteiro.
O santo é aquele que faz a vontade de Deus, quando é chamado a concretizá-la. Por vezes, não é fácil, porque o que Deus nos exige, ou, talvez melhor, nos sugere, nem sempre nos agrada, encontra-nos numa onda completamente diferente daquilo que nos é pedido, enfim, por ser duro e doloroso dizer que sim a Deus, como aconteceu com Jesus Cristo, o Filho legal de S. José.
Este homem simples e humilde, embora descendente do rei David, manifesta de forma clara e objectiva que a santidade não precisa de palavras – o Novo Testamento não recolheu nenhuma frase sua em discurso directo –, mas de se pôr à completa disposição da vontade divina e acolhê-la da forma mais adequada.
Toda a vida deste carpinteiro de aldeia respiga tal modo de comportar-se. Diz S. Mateus: “Tendo eles (os reis magos) partido, eis que um anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e lhe disse: “Levanta-te, toma o Menino e Sua mãe, foge para o Egipto, e fica lá até que te avise, porque Herodes vai procurar o Menino para O matar. E ele, levantando-se de noite, tomou o Menino e Sua mãe e retirou-se para o Egipto” (Mt 2, 13-14). S. José não titubeia ou discute. Faz o que Deus lhe manda sem constrangimento. É rápido e é ele, como chefe de família, que tem de pensar em tudo: como fugir, o que levar, como acomodar a esposa e o Filho, qual o caminho a seguir para uma terra que lhe era completamente desconhecida, como sustentar os seus, o que deveria fazer para não deixar qualquer rasto aos perseguidores do Menino, etc.
Um grande doutor da Igreja, S. João Crisóstomo, num seu escrito, põe-se no lugar de José e a pensar nas respostas que poderia dar àquele anjo, tendo em conta que, não há muito tempo, ele lhe dissera que o Menino seria o salvador do seu povo, o Messias prometido: “(...) o que salvaria o seu povo – pergunta –, (...) não é agora capaz de se salvar a si mesmo? (...) temos necessidade de fugir, de empreender uma viagem e suportar uma longa deslocação? Isso é contrário à tua promessa”. E comenta: “José não discorre deste modo, porque é um homem fiel. Nem sequer pergunta pelo tempo do regresso” (Homilia sobre S. Mateus, 8), que o anjo lhe deixa sem qualquer concretização.
Ninguém gosta de ser chamado a meio da noite. Sobretudo se o motivo dessa alvorada insuspeita não traz boas notícias. Foi assim o despertar forçado e súbito de José: é a ele, como se referiu, que compete arranjar tudo para que a fuga tenha sucesso. Não hesita nem atrasa a decisão. É Deus que pede e a sua vontade não pode ser subestimada.
Imaginemos todo o trabalho e todas as inquietações que o marido de Nossa Senhora passou para triunfar desta epopeia. Que não acaba aqui. Como que se repete. Já adaptado minimamente ao Egipto, talvez no seio de uma comunidade judaica da diáspora que acolheu aquela família de refugiados, eis que o mesmo anjo, que não faz cerimónias, lhe indica dum modo peremptório: “Levanta-te, toma o Menino e a Sua mãe, e vai para a terra de Israel, porque morreram os que procuraram tirar a vida ao Menino. Ele levantou-se, tomou o Menino e Sua mãe, e voltou para a terra de Israel” (Mt. 2, 20-22).
Pensemos em imitar
S. José, não discutindo com Deus as suas indicações. Todo este rol de aceitação da vontade divina, constante e imediata, presenciada no dia a dia por Jesus, foi decerto, humanamente, um norte habitual que influenciou a sua conduta. Como perfeito homem, Cristo necessitou, como qualquer um de nós, de ser educado. E que melhor pedagogo podia ter tido do que este homem que não teve outra ambição na vida senão a de cumprir tudo o que Deus lhe ia propondo?
Autor: Pe. Rui Rosas da Silva
Nas proximidades de 19 de março

DM
11 março 2018