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Não-violência ativa

2. A não-violência construtora da paz não é uma não-violência para a qual tudo está bem. Não é a não-violência do deixa-correr. Não é a não-violência dos que evitam marcar uma posição. Não é a não-violência dos que não reivindicam ou evitam manifestar a justa indignação.

Essa não-violência conduz à paz dos cemitérios, onde as pessoas não reagem simplesmente porque estão mortas.

Não foi essa a não-violência de Mahatma Gandhi nem de Martin Luther King; de Hélder Câmara nem de Óscar Romero; de Manuel Vieira de Matos nem de Francisco Maria da Silva, para apontar só estes exemplos. Não foi esse o legado que nos deixou João Paulo II com o seu testemunho de vida e o seu magistério.

A não-violência ativa não é a aceitação e aprovação de tudo. Não é o silêncio perante situações que devem ser denunciadas.

Não-violência ativa não é evitar dar a cara. Não é deixar de dizer as coisas, mas saber dizê-las como, onde, quando e a quem devem ser ditas. 

3. A não-violência-ativa consiste em pôr em prática as normas da correção fraterna, de que falou Jesus (Mateus 18, 15-17; Lucas 17, 3-4).

Na não-violência ativa as pessoas usam do direito e do dever de discordar e de protestar, mas fazem-no ordeiramente, recorrendo a meios pacíficos. Denunciam o erro mas respeitam a pessoa que erra.

É não-violência ativa a participação em manifestações em que se não insulta ninguém e se não provocam confrontos.

É não-violência ativa o recurso aos abaixo-assinados, onde as pessoas manifestam, educadamente, as suas opiniões e defendem pacificamente o que entendem deve ser defendido.

É não-violência ativa a denúncia profética, hoje muito necessária. Há verdades que devem ser ditas e situações que devem ser denunciadas, embora correndo riscos. Por isso quem a pode e deve fazer nem sempre o faz, por comodismo ou por medo de represálias. Porque também possui telhas de vidro ou porque as dependências o amordaçam.

Há verdades que incomodam. Quem por elas é atingido reage e, se tem poder, abusa dele. Há silêncios que se compram.

A denúncia profética tem o seu preço. Por causa dela foi apresentada numa bandeja a cabeça de João Batista.

Considero não-violência ativa as greves justas, quando se apresentam como soluções de último recurso e se fazem na observância das leis de um Estado de Direito e do direito dos outros.

A não-violência ativa não dispensa as pessoas injustamente lesadas de recorrerem aos tribunais a fim de que lhes seja feita justiça.

Pode ser não-violência ativa a não comparência a reuniões ou a recusa educada de certos convites. Deverão levar as pessoas que as convocam ou os formulam a interrogarem-se sobre os motivos de tais faltas de comparência ou recusas, podendo concluir que nem tudo vai bem.

É não-violência ativa a participação em eleições onde cada um diz o que quer e o que rejeita. São de lamentar as elevadas taxas de abstenção, que podem significar comodismo ou descrença, e merecem atenção os votos em branco ou nulos.

Há casos em que a não-violência ativa se exerce através do silêncio, como fez Cristo diante de Pilatos (Mateus 27, 11-13). Há silêncios que incomodam, porque gritam mais do que um turbilhão de palavras. 

4. Tivesse a maioria silenciosa e acomodada sabido exercer a não-violência ativa e estou persuadido de que certas decisões não teriam sido tomadas e certos propósitos não se teriam concretizado.


Autor: Silva Araújo
DM

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5 janeiro 2017