Cada um é o que é e, dentro do que é, cumpre o seu dever perante a sociedade, guiado pelas suas próprias potencialidades. Torna-se útil, prestando um valioso serviço que, no seu conjunto, confere a dinâmica necessária para o funcionamento desta nossa grande “máquina” coletiva. A nossa casa não existia se não houvesse, pedreiros, trolhas, canalizadores, eletricistas, pintores, engenheiros, desenhadores… Cada um, com o seu próprio saber, contribui para que tenhamos o que necessitamos, mas nunca devemos querer ultrapassar os nossos limites, tentando concentrar tudo em nós em detrimento dos outros.
Este preâmbulo serviu para desabafar um pouco sobre algumas atitudes que se vão tomando, a meu ver, incorretas, descontextualizadas, sem o seu verdadeiro sentido, provocando, em certos casos, incompatibilidades que poderiam ser evitadas se houvesse uma atuação lógica de acordo com o estatuto de cada interveniente. Cada um de nós tem o seu papel na sociedade que deve ser respeitado pelo outro dentro das normas próprias da ação desenvolvida ou a desenvolver. Era utópico sermos todos professores, médicos, engenheiros, comerciantes, agricultores, empresários… Mas também é utópico não confiarmos em cada uma destas profissões e sermos nós a ditar as regras ou as decisões que são específicas de cada uma delas.
Não somos infalíveis, errare humanum est (errar é próprio do homem), neste mundo ninguém pode dizer que é perfeito, mas não exageremos, entrando também no erro de querer discutir assuntos para os quais não fomos, nem estamos preparados. É para isso que recorremos ao médico, aos professores, aos engenheiros, ao agricultor, ao sapateiro, ao pedreiro, ao trolha… e em cada uma destas profissões existem pessoas formadas, com experiência, outras com dons especiais para desempenhar condignamente a sua atividade.
Há casos, felizmente, não muito frequentes, mas que chegam para incomodar, começando por alguns pais/encarregados de educação. Saberão desempenhar a sua verdadeira função, quando se impõem ao próprio ato de ensinar e de educar, criticando verdadeiros profissionais, por vezes, ameaçando-os, havendo, como a cada passo lemos e ouvimos na comunicação social, agressões verbais e, até, físicas? Não se poderá falar mais alto para o menino quando ele assim o exige? Não se poderá contrariar o aluno quando não é pontual, é desordenado nas tarefas que realiza, trata mal os colegas, profere palavrões e faz cenas impróprias de um espaço educativo?
Quantas vezes induzem em erro os seus educandos, metendo-se em assuntos para os quais não estão preparados, convencendo-se de saber o que não sabem. No exercício da minha profissão, cheguei, não foram muitas vezes, a pedir a presença dos encarregados de educação para lhes explicar e retirá-los do erro que estavam a cometer. São exemplos flagrantes para aqueles que se elevam demasiado! Todos nós sabemos que numa comunidade as regras não podem ser feitas em relação a cada elemento, mas para o seu todo, embora haja adaptações, como é o caso dos ritmos de aprendizagem de cada discente que devem ser respeitados.
Outro grande exemplo de maus hábitos acontece na área da saúde. Quantas vezes aparecem pessoas todas incomodadas pelo facto do médico não prescrever os medicamentos, exames… que pretendem! Então para que serve o profissional de saúde? Afinal, quem tem a formação para poder avaliar as queixas de um paciente, prescrevendo o que entender mais correto e adaptado àquela situação? Há falhas, é possível, mas saibamos atuar dentro das regras estabelecidas. Haja bom senso e não caiamos no ridículo e em exageros!
Autor: Salvador de Sousa