Muitos de nós receberam, nalgum momento da sua vida académica, explicações para melhorar o rendimento escolar. Quase sempre com resultados positivos, permitindo a passagem de ano, a dispensa de algum exame e até outros objectivos difíceis. Inexplicavelmente, as explicações que têm sido dadas ao Executivo para que possa resolver favoravelmente a questão da insatisfação dos docentes do país não têm conseguido inverter a situação periclitante em que se colocou. Há demasiado tempo que aos alunos estão sem aulas e não se pense que a culpa disso acontecer é dos professores. Antes de tudo e todos, a culpa é do Governo. Primeiro de António Costa e depois do ministro. A sequência não é arbitrária no caso. O primeiro-ministro é sempre o primeiro responsável e na matéria em causa tem andado calado demasiado calado perante as manifestações. Ambos têm andado a dormir, abúlicos ou irresponsavelmente inactivos. Os professores estão fartos – e com razão –, já notaram a surdez e a mudez dos governantes. Certamente que vão continuar a insistir. O país há-de agradecer. Para já, a única preocupação do ministério da Educação foi tentar diminuir a força da greve que se arrasta e que continuará se os professores não forem ouvidos nas suas reivindicações. Pena não ser tão lesto a colocar os professores em número suficiente e atempadamente nas escolas. Nesta altura do ano lectivo ainda há, infelizmente, alunos sem professor a uma ou mais disciplinas.
O país está a atrasar-se. Chegará atrasado ao futuro quando precisar que a geração activa se chegue à frente. A Educação é o sector que podia inverter a situação. O problema é que os políticos que temos pensam antes no presente que agarram e lhes dá poder e na sua situação pessoal e não no que o país pode ser, uma, duas ou três décadas depois do seu ego. A dolência de hoje vai perturbar a acção nas próximas décadas. O país já foi pioneiro, hoje vê outros a serem protagonistas e a ultrapassá-lo. O braço de ferro com os professores só pode agravar a situação. Uma teimosia irresponsável. Uma desconsideração indesculpável. Uma burrice colossal. Uma injustiça incompatível com o Estado de direito. E alguns perguntam: “ninguém vê isto”? A maioria vê, só que uma pequena minoria autoritária e autocrática está-se marimbando para a classe profissional e é escandalosamente incompetente, irresponsável e nada democrática, que impõe restrições ao direito à greve consagrado na lei fundamental do país.
O socialismo já foi assumidamente metido na gaveta. Hoje, são regras democráticas desrespeitadas por quem se assume socialista. O que é feito da paixão do Partido Socialista pela Educação? Mudam-se os tempos e os protagonistas, mudam-se as vontades e as políticas, é? E o quadro ideológico do partido onde fica? O Partido Socialista é um cata-vento político? Que garantia pode dar a quem lhe tem assegurado o voto, perante esta evidência de que muda de opções ao sabor do líder e de uns quantos conselheiros e assessores?
A obra imaterial não é muitas vezes tida em conta na apreciação e avaliação que se faz, antes dum acto eleitoral, do partido que está no Governo. Ora, tal obra, como no caso da Educação, tem importância capital que se sente apenas muito tempo depois dos governantes terem deixado o poder. Infelizmente, nessa altura já será tarde, no caso de se não ter feito o que era exigível e possível. E pode mesmo acontecer que um atraso não venha só. Somos o que os nossos governantes fizeram por nós no passado. Seremos o que os que hoje gerem o país forem capazes e queiram fazer no presente. Que esperar? Que alguém com visão de futuro tome conta do barco. E haverá? Acredito que sim. No maior partido da oposição? Tenho sérias dúvidas. Na esquerda? Já experimentamos que desse lado do espectro político não se podem esperar bons ventos. O Governo, tem mostrado à exaustão, que não é capaz. Não há explicação que o recupere. A maioria absoluta deixa-o cego, surdo e mudo. Só resta acreditar nos partidos da nova direita.
Autor: Luís Martins