Zangam-se as comadres e os compadres e vai-se a geringonça de triste memória, e até porque consigo transporta o feito olímpico de ter deixado o pais na situação de lanterna vermelha, de carro vassoura da União Europeia
Mas vamos ao óbvio: quando em 2015, após as eleições legislativas ganhas pelo Partido Social Democrata (PSD), embora sem maioria absoluta, Antonio Costa chefiando o Partido Socialista (PS) vislumbra uma solução de maioria parlamentar encostando-se às esquerdas e extremas-esquerdas, os eleitores vencedores das eleições sentem-se frustrados e abusados, e, aqui, o Presidente da República, Cavaco Silva, de aceitar esta solução, igualmente trai e frustra o eleitorado de centro-direita e de centro-esquerda, uma vez que esta solução parlamentarista é democraticamente inaceitável e injusta.
Ora, se a democracia sempre tem como objetivo primordial consentir que a maioria dos eleitores legitime nas urnas a governação que deseja para o país, obviamente que nas circunstâncias não foi uma governação de esquerda e de extrema esquerda que escolheu, porque esta centra-se numa ideologia e ação políticas contrárias aos princípios social-democratas, como são o marxismo, o trotskismo, o estalinismo e o maoismo que concebem a estafada e oportunista geringonça.
Mas, esta governação híbrida e taticista lá vai fazendo o seu caminho aos repelões, arranhões e encontrões e mais preocupada em pugnar pelos seus interesses e problemas político-partidários do que pelos interesses e problemas do país, e aqui António Costa, como primeiro-ministro sempre se mostra um jogador exímio e consertador dançarino, ora encostando-se ao Partido Comunista (PCP), ora ao Bloco de Esquerda (BE) para manter avidamente o barco da governação, embora com rumo e bandeira incertos, mas marcação garantida
Só que as aprovações dos sucessivos Orçamentos de Estado sempre são turbulentas e imprevisíveis, devido às cedências que ele precisa de fazer, muitas vezes utópicas e bizarras, para que os parceiros da geringonça votem a favor ou se abstenham, e, deste modo, garantida esteja a sua passagem na Assembleia da República e o arrais António Costa prossiga, ufano e viril, ao comando da embarcação, mesmo que em mar proceloso.
Entretanto, a geringonça que não passou de uma união oportunista chega, agora, ao fim com a rejeição, na generalidade, do Orçamento para 2022; e, desta feita se prova que as cedências de António Costa aos parceiros de ocasião não passaram de fogos fatuos e presentes envenenados finalmente reconhecidos pelo PCP e pelo BE.
Pois é, e foi assim que, ano após ano, com estes truques e passos de mágica que abalizam os Orçamentos, o país vai ficando cada vez mais para trás e distante dos parceiros europeus, endividado, pobre, e, sobretudo, sem projetos e objetivos criadores de riqueza e económica e socialmente inovadores que garantissem um futuro mais risonho e desenvolvido, arrastando o povo para a desmotivação, a descrença e o medo de que os sonhos de liberdade, de solidariedade, de mais igualdade e justiça social, conquistados com a democracia, nunca sejam plenamente alcançados ou se percam definitivamente.
Agora, sempre chegou ao fim esta paz podre que tem sempre pernas bambas e vistas curtas, desenrolando-se sob a ameaça constante dos chumbos do Orçamento e consequentemente da realização de eleições antecipadas que os partidos não desejavam; e a que o próprio Presidente da República igualmente sempre foi posto algumas reservas, lançando pontes de diálogo e de bom senso entre os partidos.
Todavia, não haja ilusões, pois uma realidade é evidente e persecutória: o povo não tem culpa da salgalhada dos partidos que sustentaram a geringonça só porque temem que a direita conquiste o poder e quer clareza, competência e seriedade governativas; e, por isso, não teme nem vira costas às eleições legislativas antecipadas que se avizinham, já que elas são a solução para pôr fim aos males que o afligem e podem, deste jeito, abrir espaços de progresso, bem-estar e desenvolvimento social para o futuro.
Ademais, analisando os resultados eleitorais das últimas eleições autárquicas, os parceiros ocasionais da geringonça foram duramente castigados nas urnas como sinal claro de descontentamento dos seus habituais eleitores; e esta atitude só revela que descreem do empenho e voluntarismo que tais partidos dizem por eles nutrir.
Depois, se o PS sempre virou costas ao PSD não querendo contar com ele para nenhuma solução governativa ciente de que o seu caminho era o da geringonça, tem na atual situação o castigo da sua arrogância; e, então, não gozem com os eleitores que, ser eles ignorantes e estúpidos, sempre souberam ser sábios, certos e seguros nos momentos de fazer decisivas e concretas opções nas urnas.
Só não vê quem não quer, porque o país navega em águas turvas e agitadas, o povo sai à rua em manifestações, greves e protestos a exigir projetos e objetivos sólidos e sérios de desenvolvimento e sustentabilidade económica e social; e, arrastado é para a desmotivação, a descrença e o medo de que os sonhos de liberdade, de solidariedade, de mais igualdade e justiça social conquistados com a democracia nunca sejam plenamente alcançados ou se percam definitivamente.
Então, ate de hoje a oito.
Autor: Dinis Salgado