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Não apenas a «verdade da noite»

  1. Não sendo só agora, é também agora e especialmente agora que a violência tiraniza o mundo.

É a violência da natureza contra as pessoas. E é a violência das pessoas sobre as próprias pessoas.

  1. A natureza, que nunca perdoa, larapiou (uma vez mais) dezenas de milhares de vidas.

E o homem, que devia saber perdoar, desdobra-se em guerras que também não poupam em mortes e destruição.

  1. Sofremos com o que a natureza nos inflige. Mas não penamos menos com o que a humanidade açoita sobre si mesma.

Não param os «abalos sísmicos» neste mundo em convulsão. Além do sismo que arrasou parte da Turquia e da Síria, persiste o «sismo» de uma guerra que já vai para um ano e não dá sinais de abrandar.

  1. Quanto aos sismos, ainda não encontramos uma forma de os evitar. Já no que respeita às guerras, jamais descobriremos uma razão que as justifique.

E, no entanto, a usura do poder e a volúpia de mandar não hesitam em multiplicar vítimas sem fim. Resta um pasto de ódios e ressentimentos que não nos deixam sair deste cenário de horror.

  1. Não abundam, pois, sinais de esperança.

E a nossa tendência – tão massacrados estamos pela «ditadura do real» – é, como sinalizava Manuel Antunes, para prestar mais atenção ao negativo do que ao positivo.

  1. É certo que não podemos ignorar o que «vemos, ouvimos e lemos». E, para nosso pesar, há muito de calamitoso no nosso mundo.

Nem os cristãos estão fora do «mapa da iniquidade». Já o teólogo Henri de Lubac reconheceu que a Igreja não é «uma academia de sábios» nem uma «assembleia de super-homens».

  1. Ela é para todos, mas não pode ser para tudo. E, por muito que nos doa, temos de encarar frontalmente a «verdade da noite» (Nietzsche).

Se a vivência do Amor faz mais pela Igreja do que muitos tratados e sermões, é óbvio que as perversidades que nela ocorrem podem fazer mais pelo ateísmo do que os argumentos dos maiores ateus.

  1. Impressiona, porém, que não se releve devidamente que, também na Igreja, «a verdade está na totalidade». Não podemos estatelar-nos apenas na «verdade da noite».

E, como notavam os paleocristãos, se na Igreja há muitas sombras, não lhe faltam igualmente muitas fases de «lua cheia», luminosas.

  1. Que não se pactue com a maldade: na Igreja e em toda a parte.

Mas porquê silenciar repetidamente o bem que tantos sacerdotes, religiosos e fiéis leigos (de todas as idades e condições) semeiam nos corações?

  1. Será só porque a «boa notícia não é notícia»?

Basta de violência e de violações. Mas não calemos o manto de bondade que vai aconchegando muitas vidas!


Autor: Pe. João António Pinheiro Teixeira
DM

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21 fevereiro 2023