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Não sendo só agora, é também agora e especialmente agora que a violência tiraniza o mundo.
É a violência da natureza contra as pessoas. E é a violência das pessoas sobre as próprias pessoas.
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A natureza, que nunca perdoa, larapiou (uma vez mais) dezenas de milhares de vidas.
E o homem, que devia saber perdoar, desdobra-se em guerras que também não poupam em mortes e destruição.
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Sofremos com o que a natureza nos inflige. Mas não penamos menos com o que a humanidade açoita sobre si mesma.
Não param os «abalos sísmicos» neste mundo em convulsão. Além do sismo que arrasou parte da Turquia e da Síria, persiste o «sismo» de uma guerra que já vai para um ano e não dá sinais de abrandar.
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Quanto aos sismos, ainda não encontramos uma forma de os evitar. Já no que respeita às guerras, jamais descobriremos uma razão que as justifique.
E, no entanto, a usura do poder e a volúpia de mandar não hesitam em multiplicar vítimas sem fim. Resta um pasto de ódios e ressentimentos que não nos deixam sair deste cenário de horror.
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Não abundam, pois, sinais de esperança.
E a nossa tendência – tão massacrados estamos pela «ditadura do real» – é, como sinalizava Manuel Antunes, para prestar mais atenção ao negativo do que ao positivo.
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É certo que não podemos ignorar o que «vemos, ouvimos e lemos». E, para nosso pesar, há muito de calamitoso no nosso mundo.
Nem os cristãos estão fora do «mapa da iniquidade». Já o teólogo Henri de Lubac reconheceu que a Igreja não é «uma academia de sábios» nem uma «assembleia de super-homens».
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Ela é para todos, mas não pode ser para tudo. E, por muito que nos doa, temos de encarar frontalmente a «verdade da noite» (Nietzsche).
Se a vivência do Amor faz mais pela Igreja do que muitos tratados e sermões, é óbvio que as perversidades que nela ocorrem podem fazer mais pelo ateísmo do que os argumentos dos maiores ateus.
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Impressiona, porém, que não se releve devidamente que, também na Igreja, «a verdade está na totalidade». Não podemos estatelar-nos apenas na «verdade da noite».
E, como notavam os paleocristãos, se na Igreja há muitas sombras, não lhe faltam igualmente muitas fases de «lua cheia», luminosas.
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Que não se pactue com a maldade: na Igreja e em toda a parte.
Mas porquê silenciar repetidamente o bem que tantos sacerdotes, religiosos e fiéis leigos (de todas as idades e condições) semeiam nos corações?
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Será só porque a «boa notícia não é notícia»?
Basta de violência e de violações. Mas não calemos o manto de bondade que vai aconchegando muitas vidas!
Autor: Pe. João António Pinheiro Teixeira