Os casais modernos, por muitos e variados fatores, formam-se em bases muitas vezes inseguras, irresponsáveis e levianas; e, por isso, vítimas fáceis são da falta de respeito mútuo, da paciência e da responsabilidade necessários ao bom entendimento, provocando as separações e os divórcios.
Estes casais, durante o tempo necessário à preparação do matrimónio, não namoraram como deviam e preciso era para se conhecerem e avaliarem; e, sobretudo, medirem as suas fragilidades, receios e formas de ser e estar na vida, a fim de os catalogarem e sopesarem numa ordem de grandeza e de relação estabelecidas.
Depois, a facilidade e leviandade com que dois jovens se relacionam e juntam, sem assumirem qualquer grau de responsabilidade e disponibilidade para uma vida séria segura a dois, faz com que saiam dessa relação magoados e frustrados; e a pensarem que uma união sólida e bem-sucedida a dois é difícil e desaconselhável.
Também frequentemente há jovens que se juntam numa experiência física e sentimental que não dura nem é pacífica, porque resultou de um ato leviano e imaturo; depois, desiludidos e desenganados, regressam a casa dos pais ou partem para nova relação que não passa de mais do mesmo.
Pois bem, estas experiências pré-matrimoniais até podem ser boas e construtivas assentes na confiança e responsabilidade mútuas e nunca em razões de modernices e leviandades; porque não tenhamos dúvidas de que uma vida a dois, sólida, responsável e duradoira, exige muita entrega, generosidade e maturidade.
Penso que, se me permitem, há um conselho que, com a minha longa experiência de vida matrimonial de mais de quatro décadas, posso, aqui, deixar, em forma de convite, aos casais jovens e menos jovens e é: namorar, namorar, namorar; porque não esqueçam que, mesmo depois de juntarem os trapinhos, um dos segredos para uma vida feliz e tranquila a dois, é disporem sempre de algum tempo para namorar.
Mas, então, em que consiste, fundamentalmente, namorar? Ora, namorar é, sobretudo, dialogar, compreender, repartir, projetar; e, até, uma simples ruga na testa ou na sombra, ténue que seja, que ofusque o olhar do companheiro(a) motivo deve ser para namorar, ou seja, procurar a razão dessa ruga ou dessa sombra e, assim, valorizar, ceder ou perdoar, a fim de que a tranquilidade, a harmonia e a paz de espírito reine no casal.
Há seguramente muitos momentos na vida de um casal em que o desânimo, a indisponibilidade e a intolerância ameaçam a relação, comprometendo o espírito de sacrifício, de dádiva, de entreajuda e de generosidade; e, nestes momentos, somente o avivar dos sentimentos de cedência, participação e, até, humildade ajudam a repor a normalidade e a reforçar a união.
Por isso, namorar, namorar, namorar é a palavra de ordem que deve estar sempre presente na vida do casal; porque namorar é, além do mais, saber rir e saber chorar, saber ganhar e saber perder, saber amar e saber sofrer; e, igualmente, apreciar e valorizar, sempre que necessário, a felicidade ou a infelicidade, a vitória ou a derrota, o sorriso ou a lágrima do outro.
Ademais, não há melhor forma de manter e fortalecer uma relação matrimonial saudável, séria e segura do que adormecer e acordar, todos os dias, ao sabor de um beijo que é como quem diz em plena harmonia e conjugalidade, não permitindo que qualquer dúvida ou ressentimento, ou seja, qualquer ruga ou sombra entre o casal perdure e se agigante.
Então, até de hoje a oito.
Autor: Dinis Salgado