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Nada como dantes ou tudo melhor que antes?

  1. «Nada vai ficar como dantes». Eis o que os nossos ouvidos cada vez mais apuram e o que os nossos olhos cada vez mais registam.

É uma evidência. O mundo é feito de mudança. E, muito mais, numa situação como a que estamos a viver.

  1. Sucede que a questão decisiva tem de ser outra. Não se trata de «nada ficar como dantes», mas de cooperar para que tudo fique melhor que antes.

De facto, não basta que o mundo surja diferente depois da pandemia e até no decurso da pandemia. (Haja em vista que este pesadelo ainda está longe do fim, pelo que as previsões são um exercício crescentemente temerário).

  1. Como bem notou Karl Popper, «a vida é uma aprendizagem» e deverá ser uma «contínua resolução de problemas».

A realidade, porém, vai-se encarregado de infirmar tal afirmação. Nem sempre gostamos de aprender e, muitas vezes, demitimo-nos de resolver.

  1. Frequentemente, até contribuímos para fazer alastrar os problemas. Por acção ou inacção, ungimo-nos de um conhecimento auto-infuso e partimos para decisões que comprometem a vida de tantos.

Nesta hora, proclamamos – com sobrecargas de segurança – que nada vai ficar igual. Mas será que estaremos mobilizados para superar o que está mal?

  1. A prioridade não há-de ser apenas mudar. O fundamental tem de ser melhorar. Há que porfiar para que tudo fique melhor. E sobretudo para que todos sejamos melhores.

O mundo começará a ser melhor se cada pessoa que há no mundo se tornar melhor. Aliás, esta é a única mudança que depende de nós.

  1. Era Aldous Huxley que reconhecia «haver um único recanto do universo que podemos ter a certeza de melhorar: o nosso próprio eu».

Tenhamos bem presente que, enquanto cada um não melhorar, o mundo não melhorará.

  1. Daí a pertinência do apelo de Roger Schutz: «Começa por ti». Comecemos então. E não deixemos para amanhã o caminho que tem de começar hoje.

Temos de sair daqui melhores do que temos sido até aqui: menos «ego-sentados» e mais «alter-centrados».

  1. O outro tem de ser a nossa preocupação. Não podemos condená-lo ao abandono, ao esquecimento.

As pessoas e os países têm de estar mais sensíveis e abertos aos dramas dos outros.

  1. Temos de assumir que todos pertencemos a todos.

Não somos milhões de «ilhas». Temos de começar a olhar-nos como elos de ligação.

  1. Há que empreender a revolução que está por fazer: a «revolução espiritual», aquela que nos transforma por dentro e nos melhora para fora.

Ainda há um longo caminho a percorrer. Que, pelo menos, não o percorramos para trás!


Autor: Pe. João António Pinheiro Teixeira
DM

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4 agosto 2020