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«Nada vai ficar como dantes». Eis o que os nossos ouvidos cada vez mais apuram e o que os nossos olhos cada vez mais registam.
É uma evidência. O mundo é feito de mudança. E, muito mais, numa situação como a que estamos a viver.
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Sucede que a questão decisiva tem de ser outra. Não se trata de «nada ficar como dantes», mas de cooperar para que tudo fique melhor que antes.
De facto, não basta que o mundo surja diferente depois da pandemia e até no decurso da pandemia. (Haja em vista que este pesadelo ainda está longe do fim, pelo que as previsões são um exercício crescentemente temerário).
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Como bem notou Karl Popper, «a vida é uma aprendizagem» e deverá ser uma «contínua resolução de problemas».
A realidade, porém, vai-se encarregado de infirmar tal afirmação. Nem sempre gostamos de aprender e, muitas vezes, demitimo-nos de resolver.
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Frequentemente, até contribuímos para fazer alastrar os problemas. Por acção ou inacção, ungimo-nos de um conhecimento auto-infuso e partimos para decisões que comprometem a vida de tantos.
Nesta hora, proclamamos – com sobrecargas de segurança – que nada vai ficar igual. Mas será que estaremos mobilizados para superar o que está mal?
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A prioridade não há-de ser apenas mudar. O fundamental tem de ser melhorar. Há que porfiar para que tudo fique melhor. E sobretudo para que todos sejamos melhores.
O mundo começará a ser melhor se cada pessoa que há no mundo se tornar melhor. Aliás, esta é a única mudança que depende de nós.
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Era Aldous Huxley que reconhecia «haver um único recanto do universo que podemos ter a certeza de melhorar: o nosso próprio eu».
Tenhamos bem presente que, enquanto cada um não melhorar, o mundo não melhorará.
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Daí a pertinência do apelo de Roger Schutz: «Começa por ti». Comecemos então. E não deixemos para amanhã o caminho que tem de começar hoje.
Temos de sair daqui melhores do que temos sido até aqui: menos «ego-sentados» e mais «alter-centrados».
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O outro tem de ser a nossa preocupação. Não podemos condená-lo ao abandono, ao esquecimento.
As pessoas e os países têm de estar mais sensíveis e abertos aos dramas dos outros.
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Temos de assumir que todos pertencemos a todos.
Não somos milhões de «ilhas». Temos de começar a olhar-nos como elos de ligação.
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Há que empreender a revolução que está por fazer: a «revolução espiritual», aquela que nos transforma por dentro e nos melhora para fora.
Ainda há um longo caminho a percorrer. Que, pelo menos, não o percorramos para trás!
Autor: Pe. João António Pinheiro Teixeira