Na véspera do dia de Natal, um dos feriados mais importantes para os cristãos, em que se celebra o nascimento do menino Jesus, tem lugar a Consoada, por certo o repasto do ano mais prolongado e mais familiarmente vivido.
A Consoada ou Ceia de Natal é uma festa de família onde todos partilham a mesma refeição com prazer e alegria e reforçam os laços de afetividade que os une.
É um tempo de renovar tradições, de recordar parentes e amigos que já partiram, mas sobretudo uma oportunidade de viver o verdadeiro espírito de Natal assente no amor ao próximo. É um tempo de reviver recordações neste mundo cada vez mais despido de memória, obcecado pelo ter e pelos prazeres efémeros da vida moderna. É um tempo de excelência para meditar e refletir sobre o modelo de sociedade que estamos a construir.
Uma sociedade que está a modelar um Ser Humano diferente, regulado pelas novas tecnologias, pela comunicação instantânea, pelas redes sociais mas, na minha perspetiva, cada vez mais afastado de valores e princípios que permitiram à Humanidade chegar aos dias de hoje.
Um Ser Humano mais apócrifa, psicologamente em profunda transformação pelas circunstâncias envolventes, a caminho de uma realidade ainda pouco definida, mas certamente mais egoísta e muito menos humana.
Em plena quadra natalícia, é dever de todos, mas sobretudo dos cristãos, fazer uma profunda reflexão sobre a sociedade contemporânea e cultivar mais afincadamente os valores do altruísmo e da solidariedade. Em qualquer momento, mas principalmente nesta época, é preciso dividir com o semelhante algo que possa minorar a pobreza, dar uma palavra que possa aliviar qualquer desgosto, ou tomar uma atitude que possa mitigar algum sofrimento.
Se os cristãos têm obrigação de encontrar nesta quadra o alento para uma vida mais solidária, consciente, alegre e feliz, outros crentes e mesmo os agnósticos e ateus podem reconhecer na mensagem de Jesus Cristo um novo sentido para a sua vida. No seu exemplo, é sempre possível descobrir a força para encarar os desafios do dia-a-dia e, pondo em prática os seus preceitos, é mais fácil ajudar a construir uma sociedade mais justa, mais fraterna, e muito mais humana.
O Papa não se tem poupado a esforços para levar a bom porto esta missão, não só denunciando os males da sociedade atual, como também tentando extirpar alguns pecados da Igreja. Ainda no último domingo, ao saudar os milhares de peregrinos presentes na Praça de S. Pedro, após rezar o Angelus, o Papa Francisco dirigiu um pensamento especial às famílias, desejando que o Natal seja uma ocasião de fraternidade, crescimento na fé e solidariedade.
Nesta quadra tão especial, expresso o desejo de que as palavras do Papa Francisco sejam ouvidas, que o seu exemplo largamente se difunda e possa contagiar cada vez mais almas, especialmente as dos mais influentes e poderosos, de modo a libertar a Humanidade dos perigos e ameaças que, mais do que nunca, a podem desumanizar e levar à destruição.
Que o espírito de comunhão, fraternidade e solidariedade, certamente presente na noite de Consoada de cada família, cresça e se propague em abundância e se perpetue por cada um dos dias do ano.
Em tempo de Natal, que este pedido à reflexão fortaleça o autêntico espírito natalício entre todos os portugueses e os leve a pensar sobre os males da sociedade contemporânea, onde grassa o egoísmo e em que prolifera o culto das aparências e do supérfluo.
Com este convite, formulo aos estimados leitores do Diário do Minho votos fraternos de um Santo Natal e Feliz 2020.
Autor: J. M. Gonçalves de Oliveira