No debate sobre o estado da Nação da semana passada na Assembleia da República não houve surpresas. Para António Costa tudo vai bem no país, o que não é verdade. E o que possa estar menos bem não é culpa do Governo e vai ser resolvido com algumas medidas que serão anunciadas mais tarde e a serem implementadas não sabemos quando. O discurso não é novo, mas tem conseguido disfarçar a realidade e convencer muitos de que o bem-estar dos portugueses tem vindo a aumentar e todos viveremos no país das mil maravilhas. A prova é que, apesar dos problemas que o país (diga-se, o Governo e o Partido Socialista) não consegue resolver, alguns deles já com barbas e com responsáveis, há uma maioria absoluta na Assembleia da República. Temo que a complacência de muitos dos compatriotas esteja a contribuir para que a situação de Portugal vá ficar ainda pior.
Costa tem sempre uma explicação para uma ineficácia ou ineficiência e um anúncio pronto de que haverá uma solução para breve. O que é facto, é que muitas das soluções anunciadas, algumas até que ajudaram o Partido Socialista a vencer eleições, não foram concretizadas, nem serão. E o pior é que os estratagemas vão continuar porque quem tem tendência para mentir não muda nunca e se muda isso não acontece de um dia para outro. No fim, os portugueses serão os únicos prejudicados. Não há anúncios que lhes melhorem as condições. Só as boas soluções o poderiam fazer.
Se a política é a arte de mentir, os governos de Costa são os que devem ficar na história, os campeões, os que merecem a medalha de Maquiavel. É que o comum dos governos pode não assumir culpas, embora devessem, mas responsabilizam ministros e secretários de Estado por erros e incompetência. Os de Costa, esses, têm sido diferentes: não são responsabilizados governantes incapazes, antes defendidos até à exaustão pelo chefe.
Temos visto os três últimos governos a correr atrás do prejuízo para nosso desconsolo e infortúnio. A parcimónia é uma qualidade, mas a avareza não. O Governo actual está a arrecadar receita por via da inflação que se instalou e, mesmo assim, não a distribui quando as pessoas passam necessidades. Se a receita fosse curta para a despesa, o Governo aumentaria os impostos. Num ano de vacas gordas para o erário público, como é o que atravessamos, o Executivo não inverte a situação nem dá sinais de que vai compensar os portugueses. Anunciar o anúncio de medidas não é nada. A avareza é tanta que o Orçamento do ano em curso, não contempla a actualização das tabelas de retenção do IRS, apesar de, na altura da sua apresentação, já serem esperadas dificuldades por parte dos portugueses!
O país – que Montenegro diz estar mal e “cada vez mais pobre” - tem sido governado pelo PSD e pelo PS, sendo que nos últimos 27 anos o partido político que hoje o governa foi responsável por 20 desses anos. O actual líder social democrata caracterizou a situação actual desta forma: “Um país mais pobre, um país com as pessoas a amontoarem-se à porta dos hospitais, com escolas com alunos que chegam ao fim do ano sem terem professores a algumas disciplinas, com a nossa economia a ser ultrapassada por todas as economias europeias”. Infelizmente, o diagnóstico não é uma novidade. Experimentamos isso no dia a dia. Apoiado nele, Montenegro quer “construir um Governo laranja para Portugal”. Se o vai conseguir ou não, é muito cedo para tentar adivinhar o que o povo decidirá, que por ora não disse grande coisa sobre essa possibilidade. Mas, também não creio que isso seja a solução de que Portugal precisa. A este respeito, apreciei os comentários proferidos por Cotrim de Figueiredo, líder da Iniciativa Liberal (IL), a propósito da reunião do primeiro-ministro com o recém-eleito presidente do maior partido da oposição. Disse o responsável pelo Iniciativa que não concorda que o país esteja sujeito a “arranjinhos do Bloco Central”, leia-se, a acordos entre o Partido Socialista e o Partido Social Democrata, “como se mandassem no país”, sendo tempo “de acabar com este bipartidarismo que não serve a ninguém”. Também não defendo maiorias de um único partido: servem mais quem ganha do que ao país.
Autor: Luís Martins