Li, atentamente, algumas das alusões tecidas à volta da figura de Aristides de Sousa Mendes, o diplomata português que preferiu desobedecer às ordens do Estado Novo a ver seres humanos a caminho dos crematórios nazis. Não porque tivessem cometido qualquer crime, mas por serem simplesmente judeus.
Ora, na esteira do tributo que a nossa classe política decidiu, com toda a justiça, prestar ao insigne e saudoso Cônsul em Bordéus, durante a 2.ª guerra mundial, notei um certo aproveitamento de tal feito histórico por parte de certos políticos da nossa praça. Sobretudo, de uma plêiade que se vai servindo do facto como estandarte das suas ideologias. E porquê? Por, em consciência, o mesmo não ter respeitado as ordens dadas por Salazar a quem era suposto obedecer.
Em boa verdade, sinto haver uma certa ‘jacobinice’ por parte da maioria da nossa elite partidária, à volta de Sousa Mendes quando lhe presta vassalagem e perpetua o seu nome no Panteão Nacional. E perguntar-me-ão, porquê? Eu digo: – porque naquelas mentes não existe uma réstia, sequer, de intrepidez e caráter similares. Basta vermos como a dita se foi vergando, no Parlamento, às propostas de foro fraturante.
Com efeito, veja-se a forma lesta como o Presidente Marcelo – qual cordeirinho obediente – anuiu à discussão e votação para a legalização da ‘eutanásia’ em véspera de dissolução da Assembleia da República. Não, sem ter dado a mão a outras leis que destroem a família, fazendo-se de surdo-mudo quanto aos casamentos e adoção de crianças por criaturas do mesmo sexo; à promoção das marchas ‘LGTBIQ’ e seus apêndices, com vista a uma sociedade predominantemente “gay”. E ao que mais virá: como a tentativa de reescrita da História de Portugal, de acordo com a moda da ressurreição do passado colonial e esclavagista, já enterrado, de Portugal e promovido por movimentos insurgentes.
Mas mais grave, ainda, é vermos muitos católicos indiferentes não só a tudo quanto acima enunciei, como a matérias escolares do nosso ensino que visam aulas como a da ideologia do género e da abolição de fronteiras entre o bem e o mal; por, enquanto cidadãos crentes, não baterem o pé ao aniquilar dos valores que sempre nortearam o país em que nascemos.
Infelizmente, não temos nos dias de hoje diplomatas do quilate do homenageado, a quem se deve gratidão e respeito, mas somente lacaios incapazes de ouvirem a voz da sua consciência. Alguma dessa gente, sempre com o credo na boca – que vai à Missa e comunga – mas sempre pronta a trair a sua fé. A qual, paulatinamente vai negando as suas raízes cristãs, anuindo ao aniquilamento da família.
Aristides de Sousa Mendes foi um homem de fé, arrojado e em nada comparável a muitos dos políticos atuais. Daí, que só por puro oportunismo o evocam como exemplo a seguir. Mas, então, por que não tiram o ‘disfarce’ e seguem a sua postura? Por que se escudam atrás de um diplomata português que recusou as ordens dadas pelo salazarismo? Citam-no porque lhes dá jeito, como justificação aos eloquentes discursos que proferem sobre a ditadura, a fim de se mostrarem verdadeiros democratas, ainda que protetores de uma certa libertinagem que ‘abril’ nos trouxe.
Ademais, Aristides, se hoje vivo fosse provavelmente faria o que Jesus fez ao entrar no templo: escorraçaria todos os ‘vendilhões’, ‘escribas’ e ‘fariseus’ que visse – no ‘panteónico’ monumento nacional – a colarem-se à sua pessoa. Alguns deles oportunistas e rapaces. O qual, se tivesse poder canónico, ali os excomungaria sem pejo. Ele que foi incorruptível, crente e fiel à sua convicção religiosa.
É por demais evidente, que o Cristianismo nunca foi tão abalado e a sua doutrina tão espezinhada como agora. Basta observarmos como crescem as investidas ‘farisaicas’ de ataque à Lei de Deus que, apesar disso, continua a ser a única capaz de arrasar as demais leis existentes no mundo: “amar a Deus e ao próximo”. O resto é política, interesses e, como agora se diz, ‘populismo’.
Autor: Narciso Mendes