Não se espera que as mulheres gostem de um desporto onde há muito contacto físico e onde a testosterona é responsável por algumas disputas agressivas, quer dentro, quer fora das quatro linhas. Espera-se que as mulheres se derretam com os bíceps e tríceps dos jogadores, com o corte de cabelo ousado ou com a sexy tatuagem mas que, em caso algum, ousem tecer um comentário sobre a forma como o treinador colocou a equipa em campo, jogando apenas com um ponta de lança e apostando no contra-ataque.
É verdade que alguns homens ouvem as mulheres quando estas falam de futebol, sobretudo quando elas têm opiniões semelhantes às suas. Já quando a opinião é radicalmente diferente, a porca torça o rabo e, não raras vezes, terminam discussões com um "que percebes tu disso, tu que nunca jogaste à bola", como se eles tivessem jogado muito mais do que os torneios do bairro, na melhor das hipóteses.
E, apesar de algumas mudanças notórias ocorridas nos últimos anos, em certos meios, ouvir uma mulher falar de trivelas, de pontapés de bicicleta, de foras de jogo e de outros termos afins, é meio caminho andado para questionar a cultura geral da dita, sim por que se fala de futebol é porque não tem outro assunto de que falar e, automaticamente, literatura, cinema, pintura ou teatro, não são do seu domínio. E o mais engraçado é que, maioritariamente, são as próprias mulheres a olhar de esquina para as mulheres que opinam sobre bola, torcendo o nariz sempre que as ouvem falar do frango do guarda-redes, mandando-as mentalmente para a cozinha da casa delas, cozinhar o verdadeiro frango num arrozinho de sangue para alimentar a família.
E depois temos os homens, os homens que ficam sempre irritados quando uma mulher lhes explica que aquele lance era passível de grande penalidade, contrariando a sua masculina opinião, muito mais avalizada e que diz que foi um belo mergulho para a piscina passível de cartão amarelo. A verdade é que, tenho a plena convicção que, muitos destes sábios homens, jogam tão bem futebol como eu, ou seja, como eu têm dois pés esquerdos, simplesmente acham que por terem barba e pénis, têm um gene de análise futebolística que lhes dá mais sabedoria do que a mim e lhes permite fazer análises mais rigorosas, pertinentes e verdadeiras do que as minhas.
A verdade é que o mundo dá voltas todos os dias mas uma mulher a falar de futebol, a irritar-se com futebol, a ir ao futebol, a ler sobre futebol, dá vontade, a muito boa gente, de a pôr fora de jogo por uns tempos ou de lhe mostrar um cartão vermelho definitivo.
Autor: Ana Pereira