No último programa da RTP1 , “Prós e Contras” (30.1.2017 ), dedicado precisamente a este tema, estiveram frente a frente os defensores dos dois pontos de vista sobre a chamada “morte digna”. Esgrimiram argumentos pró e contra o suicídio a pedido. E os defensores da eutanásia falaram sempre em “autodeterminação”, no respeito pela vontade do doente a que o matem. Que a sociedade tem de respeitar a vontade de quem quer que se lhe dê fim à vida. Um Estado que tal não permite é um Estado autoritário! Este é um Estado que não promove uma cultura de acolhimento e de amor aos e pelos sofredores, que não passa só pela Química, mas sobretudo pelos afectos entre as pessoas, combatendo as cadeias de solidão.
Sim, vivemos num Estado autoritário! E de que modo! Vou dar um exemplo, entre muitos outros: os canhotos, que prefeririam conduzir pela esquerda, por autodeterminação genética, são obrigados a conduzir pela direita! Não está bem, nesta perspectiva! Um abuso de autoridade, pois eu que sou dextro, quero e só sei conduzir pela direita e se ousar conduzir pela esquerda, porque sim, sou multado e até posso provocar um grave acidente. E não está bem, pois tal vai contra a minha autodeterminação de querer conduzir pela direita ou pela esquerda, quando me apetecer, seria um caso de autodeterminação de capricho. Vivo num Estado autoritário! E os canhotos são obrigados a conduzir pela direita, contra a sua autodeterminação. E, vamos a outra situação, a minha Mulher escreve, desenha, cose e faz outras actividades com a mão esquerda. Terá autodeterminação para ir pela esquerda, mas é obrigada a conduzir pela direita, mas como também pode usar, e bem, a mão direita, poderia ter a ideia de umas vezes conduzir pela direita e outras pela esquerda. Mas o Estado autoritário impõe-lhe que conduza sempre pela direita.
O nosso Estado é autoritário, pois um reduzido grupo de deputados (são, a sério, imensos!) fazem leis para todos, para cumprimento obrigatório, e algumas até vão contra a minha autodeterminação! O Estado (eles!) são um bando de autoritários – fascistas, pois vão contra a minha autodeterminação!
Mas o Estado tem que regular a vida na sociedade e só o pode fazer com a autoridade que lhe é delegada pelos eleitores. Por isso, é abusivo, autoritário, que o Estado, por exemplo os deputados, legislem sem terem mandato para determinadas limitações ou regras da sociedade. E quando toca o direito à vida ou à liberdade individual ou colectiva, o Estado e por maioria de razão os deputados, não podem ir para lá do que lhes é mandatado ou ir contra os direitos fundamentais da Pessoa Humana, como é o DIREITO À VIDA.
No caso da Eutanásia, urge deixar de mentir e de confundir os cidadãos! Temos estado, como quase sempre, muito passivos e nada interventivos, impedindo, no uso da nossa liberdade, que não nos é dada por ninguém, mas faz parte de nós mesmos, que a mentira alastre. Neste caso, temos de dizer: todos temos o direito a morrer com dignidade, mas que não nos matem. Temos o direito a morrer com dignidade, não permitindo os tratamentos desnecessários, mas que nos retirem a dor, mesmo que tal possa limitar a duração da vida. Temos o direito a uma morte assistida e não um fim de vida isolado sem a presença da mão amiga de quem amamos e nos ama e de cuidadores que nos acompanhem no alívio do sofrimento.
A EUTANÁSIA é a resposta no fim da vida de uma sociedade que deixou de AMAR.
A EUTANÁSIA é o meio para pôr fim, SEM DIGNIDADE, a uma vida que merecia só ser AMADA.
A EUTANÁSIA é mais um sinal de uma Cultura da morte dominante e do colapso da Civilização do Amor.
A EUTANÁSIA é , também, um sintoma da Civilização do descartável que nos está a dominar!
Autor: Carlos Aguiar Gomes