Aos Barbudos
Uma nova geração vem ao mundo
De caras abertas ao sol, rasgadas,
Cobertas de pêlos e de ar profundo:
Barbas rijas, despertas, aprumadas.
Menos luzidias, amachucadas,
Outras de idades velhas vão crescendo:
Falam de lutas, agras, porfiadas.
E dançam, sem querer, nas ondas do vento.
Há barbas como as de D. João de Castro,
Valiosas, solenes, qual quinhão.
Em tempos de poupança dão milhão.
É só cortá-las, pois não são emplastro,
E vendê-las numa feira em leilão,
Riqueza de tão alta estimação!
Não somos indiferentes aos costumes do nosso tempo. Cada época tem os seus. Na vivência social da relação de amigos ou mesmo sem o ser, vamos verificando alterações no aspeto visual das pessoas. De caras lavadas, ou melhor, rapadas pelas giletes ou máquinas elétricas, aparecem agora de rostos peludos ou barbados.
E surgem numa variação policromática variada, desde o preto carregado ao branco espigado, passando pelo acastanhado.
Há barbas novas, próprias da juventude; e velhas, comuns aos rostos escaldados pelos anos e trabalhos.
Barbas que descem até aos joelhos são raras. Aparecem qual meteoro por entre as chusmas de povo. Mas há-as. Já as vi.
Hoje, nada nos espanta, num mundo em mudança. E bem vistas as coisas, já em séculos antigos as barbas adornavam as faces de pessoas nobres, como se pode verificar nas pinturas em salas e sacristias de importantes santuários e museus.
Pessoalmente, não aprovo nem reprovo. Cada um é como é e como quer. Há territórios que têm senhorio e só este os cultiva a seu bel-prazer.
Passando duma visão exterior para outra mais interior ou moral, é justo ter presente que o rosto dum homem é retrato da alma ou do íntimo do mesmo. É a parte mais nobre onde se refletem os estados psicológicos da alma. Rosto alegre indicia felicidade; rosto triste indicia sofrimento ou problema.
Há rostos muito belos, sobretudo no ramo feminino. São reflexo da beleza do Criador, infinitamente belo.
Recordo, em tempos de jovem, a declaração dum professor, em diálogo informal: reparou no rosto duma menina adolescente, viu e reviu a sua pura e fresca beleza, porque lhe parecia um rasgo da beleza divina.
Ao contrário, as pessoas idosas vão-se tornando defeituosas, devido às rugas e sinais pretos que aparecem na pele. Mas isso não impede que os seus rostos continuem a ser o espaço mais nobre e mais rico da sua personalidade.
Pessoalmente, não sirvo de exemplo no assunto que trouxe à liça a partir do poema que encima este texto. Nos últimos tempos, alterno, dia sim, dia não, o corte da barba. Custa um pouco, mas, para mim, tem de ser. Também damos banho quando é preciso, embora nos custe um pouco, mas tem de ser.
O cuidado que temos com o corpo é semelhante ao trabalho da natureza. Todos os anos os agricultores podam as árvores e lavram os campos, para que produzam frutos. Aliás, transformam-se em selva onde não se pode entrar.
Sem ofensa. Saúde e paz para todos os meus leitores. Passem bem, com barba ou sem ela.
Autor: Manuel Fonseca
Modas do nosso tempo

DM
24 janeiro 2018