Um tal senhor Matteo Salvini – vice-primeiro ministro e ministro do interior italiano – surgiu, mais uma vez com esse ar de caudilho fascista, a contestar a receção de emigrantes/refugiados àquele país.
Embora desta vez não tenha surgido de terço em punho – qual amuleto escusado – logo anatematizou quem quis ajudar pessoas indefesas em busca de um presente menos duro e de um futuro que possa ser não tanto sofrido e perigoso
Ora, diante das imagens e das declarações de outros apaniguados de Salvini fica-me uma preocupação: para quando a expulsão do Papa Bergoglio também ele filho de emigrantes italianos, que retornou a Itália para governar a Igreja Católica a partir do Vaticano… enclave no território da capital italiana?
De facto, este senhor Salvini tem memória muito curta, pois milhões de italianos – dizem que mais de setenta, entre 1880 e 1960 – se espargiram pela Europa (Alemanha, França e Suíça), a América do Sul (Brasil, Argentina e Uruguai), a América do Norte (Estados Unidos e Canadá) e mesmo a Austrália… Claro que todos estes italianos foram difundindo a sua cultura, a típica maneira de ser, a inconfundível gastronomia e tudo o resto que está contido na mentalidade transalpina.
Se fizermos comparação com a população de quase 60 milhões daqueles que vivem no espaço territorial de Itália como que se torna ridículo que temam que lhes afetem o palácio dourado, que já foi, mas que está, nitidamente, em ruína como qualquer outra civilização que se fecha e que rejeita comparações ou mesmo intromissões no seu egoísmo social e económico…
De referir que desde 2007 a população italiana está na barreira dos quase-sessenta milhões sem nunca a atingir… e que vai, segundo as projeções, decrescer de forma progressiva nas próximas duas décadas… até 56 milhões.
Que fará, então, estrebuchar, Salvini e os seus lacaios… dentro e fora de Itália? Que valores estarão em causa para que um povo que é feito de emigração e não se deixa renovar pelos migrados? Onde se situam os critérios dos cinquenta milhões de cristãos registados? Será a ínfima parte de islâmicos (quase 4%) que cria tais obstáculos à receção de quem chega? Ou serão os quase 13% que se declaram ‘sem religião’ que engendram tais fenómenos xenófobos, ridículos e desumanos?
= É preciso distinguir com urgência as atitudes de dirigentes insanos de tudo quanto é normal e faz acontecer as ocorrências da História: as mudanças, mutações e transferências de populações sempre aconteceram e fizeram com houvesse evolução de povos, de nações, de culturas e de civilizações. As razões sempre foram muito variadas. Umas vezes feitas de forma pacífica e progressiva, enquanto noutros casos se geraram guerras e conflitos, com estragos e mudanças mais rápidas, agressivas e mesmo violentas.
Normalmente quem resistiu à mudança foi vencido, derrotado e teve de pagar as custas de não se saber adaptar ou compreender os factos na devida proporção. Mesmo quando as razões eram de procura de melhores condições de vida – passando das dificuldades para a melhoria menos má – os emigrantes foram quase sempre os vencedores, pois além de terem o desejo de conquista ainda combatiam contra a acomodação dos resistentes, que nem sempre estavam de atalaia para com as suas falhas e fraquezas.
= Os tempos próximos vão-se encarregar de desmistificar os slogans de Salvini e quejandos, pois não se pode fazer do medo uma atitude política nem se pode tornar a agressão aos outros uma forma de crescer sobre as suas fragilidades. Do mesmo modo que mentir, iludindo a verdade, depressa será descoberto, assim querer enclausurar-se nas suas inverdades capciosas não conseguirá sobreviver todo o tempo.
Mais do que construir muros, urge levantar pontes, sejam materiais ou espirituais, sejam nos espaços políticos, sociais e religiosos.
Tenho vergonha de ver Salvini de terço na mão e de faltar à caridade mais simples e sincera, assim como tenho uma sensação de ser abjeto ver combatentes materialistas (ditos ateus, agnósticos e marxistas) de vela na mão, pois ambos ofendem sinais da nossa fé cristã mais básica…Efetivamente, Cristo merece mais respeito!
Autor: António Sílvio Couto