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«Missas particulares» ou «alergia aos irmãos»?

Eles queriam assinalar uma efeméride. Mas ressalvaram – de imediato – que a celebração tinha de ocorrer numa «Missa particular»(sic).

Era seu desejo que SÓ estivessem presentes os familiares e, porventura, alguns convidados.

Estavam, portanto, a excluir – pelo menos, implicitamente – os irmãos na fé.

Acresce que estavam também – embora não o declarassem abertamente – a desvirtuar o sentido da Eucaristia. Esta é comunitária e, nessa medida, integradora, nunca excludente. Porque é que a comunidade não pode estar na celebração dos momentos mais significativos dos seus membros?

Convenhamos que é doloroso notar que nem dois mil anos bastaram para percebermos o essencial.

E, não raramente, até se trata de pessoas que participam habitualmente na Eucaristia. Por conseguinte, seria de esperar que compreendessem que não se pode «particularizar» o que, por natureza, é universal, ilimitado; ou seja, maximamente abrangente.

Na Eucaristia actualiza-se a entrega que Jesus fez de Si mesmo ao Pai pela salvação da humanidade (cf. 1Cor 11, 23-25).

É Deus que quer que TODOS os homens se salvem (cf. 1Tim 2, 4). Foi este desígnio que levou Jesus – «ephapax» (de uma vez para sempre) – a dar a vida por nós.

Daí que a locução «Missa particular» seja, como observou Mark Francis, «uma espécie de oximoro», isto é, um paradoxo, uma contradição.

A Eucaristia, enquanto celebração comunitária, nunca é restringível.

Aliás, já em 1962, o Papa João XXIII avisava que «a Santa Missa é um acto de culto público, oferecido a Deus em nome de Cristo e da Igreja, pelo que o termo “Missa privada” deve ser evitado».

Apesar disso, não falta quem insista em «Missas particulares», apenas para familiares e amigos.

Até dá a impressão de que padecemos de «fraternofobia». Há quem mostre ficar incomodado com a presença dos irmãos na mesma fé.

Esquecemos que a Eucaristia alarga o conceito – e o horizonte – da família. Em Cristo, não somos todos irmãos?

Não foi em vão que Teilhard de Chardin nos legou a magnífica obra «A Missa sobre o mundo».

Num contexto muito específico, ela ajuda-nos a combater a estreiteza do olhar e a ampliar o entendimento acerca da Eucaristia.

Por vezes, há quem pergunte se pode entrar no templo para rezar enquanto decorre uma celebração matrimonial.

«Porque não pode?» A Casa de Deus não é alugável.

Esta «alergia aos irmãos» constitui uma das maiores desolações para o coração de um padre. Não é tão belo incluir as comemorações pessoais nas celebrações comunitárias?

A presença dos irmãos nunca empobrece; pelo contrário, torna-nos ricos em fraternidade. E aproxima-nos mais de Deus!


Autor: Pe. João António Pinheiro Teixeira
DM

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5 outubro 2021