A ninguém é indiferente um acontecimento grave do nosso tempo: a migração. Grupos numerosos de pessoas, oriundas dos continentes africano e asiático rumam à Europa, enfrentando problemas de toda a ordem em terra e em mar, mormente no Mediterrâneo.
Nos anos anteriores, eram sobretudo refugiados das guerras da Síria e do Iraque. Atualmente, são sobretudo dos países pobres e secos de África. Aproveitam o tempo estivo, que é mais propício para atravessar as águas do mar e arriscam migrar.
Entram em barcos de borracha, pejados de pessoas de qualquer idade, homens, mulheres e crianças, sujeitas ao afogamento devido ao peso, como tantas vezes já aconteceu.
São induzidas e exploradas por traficantes sem escrúpulos, que lucram grandes quantias de dinheiro.
A maior parte dos migrantes são recolhidos por navios de grande porte, que acostam em diversos portos de mar, como Itália e Malta.
Há dois navios que se têm distinguido na recolha dos migrantes: o Aquarius e o Lifeline. O primeiro, com 630 migrantes, vagueou durante meses à espera dum país que se dispusesse a recolher esses seres humanos. Bateram à porta de Malta e de Itália, que recusaram recebê-los.
Começou então a gerar-se um sentimento de piedade para com essa gente e foi o novo Primeiro-ministro espanhol que se compadeceu e permitiu a entrada em Valência. Entretanto, surgiu nova leva recolhida pelo Lifeline, no total de 234, que navegou durante semanas no Mediterrâneo.
E foi o Ministro da Administração Interna Português, Eduardo Cabrita, que interveio para encontrar uma solução. Este nosso governante falou com responsáveis de Malta para atracar no seu porto de mar, comprometendo-se a receber migrantes em Portugal e fazendo diligências em relação a outros países para fazerem o mesmo.
A atitude do Ministro encontrou eco e apoio no nosso parlamento, uma vez que não houve queixas ou críticas em relação a esta novidade.
Em meu entender, este problema devia ter acolhimento na União Europeia, pois está em jogo a sobrevivência de milhares de seres humanos. E, de facto, houve uma cimeira dos 28 países desta instituição, realizada em 28 de junho, que, entre o mais, determinou o seguinte:"No território da União Europeia aqueles que são resgatados (no mar) de acordo com o Direito Internacional, devem ser acolhidos, com base num esforço conjunto, mediante a passagem por centros controlados e instalados nos Estados membros, de forma voluntária, onde um processamento rápido e seguro permitiria, com total apoio da UE, distinguir entre pessoas em situação irregular e refugiados.
O Concelho Europeu pede à Comissão Europeia para explorar de forma rápida o conceito de plataformas de desembarque regional em estreita cooperação com países terceiros, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados e a Organização Internacional para as Migrações".
E o problema não vai parar. Vamos continuar a ver este triste espetáculo de irmãos em busca dum lugar onde possam encontrar casa, trabalho e pão. As organizações de solidariedade social devem-se abrir para ajudar a resolver este problema contemporâneo.
Tem-se falado muito em misericórdia. Pois ela faz hoje tanta ou mais falta do que no passado.
Como católicos, tenhamos também presente esta intenção nas nossas orações, para que Deus nos ajude a ser úteis e salve tantos irmãos do pélago da morte. Também somos responsáveis pela sua sorte.
Autor: Manuel Fonseca
Migrantes e refugiados

DM
3 julho 2018