No passado dia 23 de Maio, um jovem religioso polaco, Michel Los, com autorização papal, foi ordenado, na sua cama de hospital, como diácono e presbítero, pelo bispo auxiliar de Varsóvia-Praga, D. Marek Scolarczyk, na presença de membros da sua congregação, os Padres Orionitas e de seus familiares. Há dias faleceu, vítima de uma doença grave que o atacava e não perdoou, aliás como se previa.
O facto de ter sido ordenado, certamente com a convicção de que a sua vida terrena não duraria muito tempo, manifesta, por um lado, a concretização de um percurso vocacional de entrega total a Deus, que o sacramento da Ordem veio concretizar. E, por outro, que a vontade divina é uma realidade que está acima de todas as outras, podendo mostrar-se, por vezes, desconcertante, ou, pelo menos, muito surpreendente.
Bem sabemos que a Polónia continua a ser um país onde as vocações sacerdotais não são tão escassas como, actualmente, em muitos países. Mas podíamos questionar a oportunidade de ordenar um jovem que, à partida, se sabia que não duraria muito tempo, já que o mal que o afectava não prometia ser superado.
A ordenação teve de se realizar no seu quarto do hospital onde se encontrava. Transmitida por vídeo através do Facebook e do Instragram atingiu as 350.000 visualizações.
Conhecedor da situação, o Presidente da República da Polónia foi visitá-lo e recebeu a sua bênção sacerdotal de joelhos. O próprio bispo que o ordenou, nesse dia, também pediu ao novo preesbítero que o abençoasse, para o que se ajoelhou devotamente.
Tais provas de apreço, de agradecimento e de respeito pela nova condição sacerdotal de Michael Los demonstram a sua relevância, apesar do futuro, como se verificou rapidamente com a sua morte, não prometer ser duradoiro. Mas foram verdadeiras manifestações de fé na importância da administração e da recepção do sacramento da Ordem.
Alguém poderia comentar, perguntando, com aparente bom senso, a razão por que se ordenou um padre, sabendo-se que estaria condenado a morrer daí a alguns dias... E poderia acrescentar: precisamos de padres que durem e não de padres que morram. Eis uma visão utilitarista duma realidade que não está no âmbito da nossa natureza racional compreender de forma absoluta.
O valor e as consequências da administração dum sacramento a uma pessoa concreta só Deus conhece. As graças que dele derivam, eis o que a inteligência humana não pode discernir de forma objectiva e absoluta, porque são horizontes de carácter sobrenatural e não apenas do âmbito da nossa capacidade de conhecer e compreender a realidade, de acordo com as possibilidades que ela nos proporciona..
Além disso, reparemos que a autoridade suprema da Igreja, o actual sucessor de Pedro, a quem o Senhor conferiu o poder das chaves, determinou que assim se procedesse. Eis uma garantia que nem a mais alta personalidade do poder humano é capaz de conceder.
O jovem Padre Michel Los, cremos com firmeza, encontra-se agora no Céu, gozando da felicidade para que Deus nos criou. E, agradecido ao Papa Francisco, ao bispo auxiliar de Varsóvia-Praga que o ordenou e a todos os que o acompanharam nesse dia, o mais feliz da sua existência terrena. E será para todos nós um generoso intercessor.
Autor: Pe. Rui Rosas da Silva