O papa Francisco pediu para fazermos uma maratona de oração do Rosário, a partir de 30 santuários marianos de todo o mundo, onde se inclui naturalmente o de Fátima, no dia 13, a fim de pedirmos que termine quanto antes esta tremenda pandemia do Covid 19.
O Rosário é uma especialidade da Igreja Católica. É uma oração que utiliza muita Palavra de Deus. O Pai Nosso é o melhor modo de rezar na fé comum. Ora, as dezenas do rosário são introduzidas pelo Pai Nosso. Mais, a 'Avé Maria', em mais de metade, utiliza expressões bíblicas, sendo o resto uma invocação à Mãe para que interceda por nós pecadores e na hora da nossa morte. O 'Glória' conclui cada mistério e afirma o primado da graça sobre a natureza, que a fé cristã comum reconhece e proclama.
O Rosário é uma verdadeira 'Bíblia dos pobres', cuja eficácia não é meramente estética, mas vivida nas vozes e nas pessoas que a recitam. Alguns objectam que o Rosário é uma espécie de 'mantra', aqui entendido como hino ou oração repetidos segundo determinadas prescrições rituais com a finalidade de obter uma graça. E o teólogo Giusepe Lorizio ( in Avvenire, 28 de Abril) responde: «E que há de mal se o rosário for um lugar de encontro entre o humano religioso e a fé cristã?». E refere a sua própria experiência: «de pequenino, não conseguia andar e os pais estavam preocupadíssimos. Havia naquela localidade o são costume de rezar o rosário em família e com a participação dos vizinhos. E aconteceu que, imprevistamente, numa das vezes em que recitavam o Rosário, eu me apartei do abraço de minha mãe e dei os primeiros passos. Não foi um milagre no sentido ordinário do termo, mas uma experiência decisiva, pela qual iniciei o meu caminho no mundo, acompanhado por uma oração coral, que ainda ressoa nos meus ouvidos, quando nela penso».
A humanidade deve recomeçar a caminhar, a expor-se, a percorrer os caminhos da história. A Igreja Católica acompanha-a com este 'mantra' da oração coral a Maria que a encoraja e lhe oferece estímulos e seguranças.
O Papa pede-nos que nos unamos em oração do rosário, de um lado e do outro do mundo, não para obrigar Deus a resolver os nossos problemas, mas para nos deixarmos acompanhar pela sua Palavra no caminho da nossa vida, e, ao mesmo tempo, darmos os primeiros passos em direcção a um futuro que esperamos seja mais humano e, precisamente por isso mesmo, mais cristão.
Acontece, porém, que muitos cristãos rezam, mesmo que com sincera piedade, com uma expressão exterior de fadiga, cansaço e rotina. O jesuíta padre Paulo Duarte, que elaborou uma tese de doutoramento sobre a Teologia da dança e do corpo, deixa-nos algumas considerações em recente entrevista a este jornal (29 de Abril). Desde logo, que o nosso rezar exprima uma relação de alegria com Deus. Uma oração muito ligada ao louvor, à entrega da nossa vida a Deus. Uma oração onde os silêncios são habitados de movimento e onde o tom de voz dá uma informação sobre como é que eu vivo a minha relação com Deus. E as pessoas sentem isso. Sentem se há verdadeira e contagiante alegria ou se há um como que estar subjugado por uma repetição rotineira, sem vida e sem chama. «Muitas vezes somos testemunhas do peso da tristeza e do sofrimento. Fomos carregados de uma teologia pietista, do drama, do sofrimento de Jesus na Cruz – que obviamente tem o seu lugar –, e quase que esquecemos a Ressurreição. Na Ressurreição, há as chagas. Mas até liturgicamente, temos os 40 dias de Quaresma, mas temos 50 dias de Tempo Pascal, para reforçar que nós acreditamos no Ressuscitado. Não é uma alegria simples, de mero contentamento, mas é uma alegria profunda que nos vai habitando e em que a fé se testemunha a partir da alegria que transparece de uma oração assim. Apetece-nos estar com alguém que está constantemente dramático, dramatizado? Ou apetece estar com alguém em quem há uma naturalidade, que é alegre, bem disposto, que nos transporta para algo novo e nos leva a estar bem?» Naturalmente que devemos acompanhar amorosamente quem está em sofrimento, mas « o gozo e a a alegria do Ressuscitado é que me levam a agir e a estar nesta presença de Deus, para O testemunhar», reafirma Paulo Duarte.
A importância da respiração e do tom de voz são vitais para uma oração que evangelize pelo simples facto de a estarmos a realizar. Que bom seria se nos esforçássemos mesmo por transmitir, coma oração do Rosário, a alegria de quem nela exprime que é alimentado de verdade pela seiva do Ressuscitado.
Autor: Carlos Nuno Vaz
Mês de Maio, mês do Rosário pelo fim da pandemia
DM
8 maio 2021