Era uma criança algo espevitada, mas com bom coração. Tinha saídas tão surpreendentes, que os avós maternos e paternos repetiam à gente amiga as suas conclusões sobre os mais diversos assuntos: Ficavam babados com este neto tão engraçado e, ao mesmo tempo, como uma das avós dizia entre dentes, se ele se encontrava presente, “tão inteligente”!
A mãe, boa cristã e educadora, preocupava-se decerto com a formação religiosa do filho, dando-lhe o bom exemplo da sua piedade e, ao mesmo tempo, procurando habituá-lo a ter presente sempre a Deus nas coisas que fazia.
No princípio de Maio, explicou-lhe que este mês era todo ele dedicado a Nossa Senhora, pelo que deveria procurar, diariamente, fazer muito bem as suas orações e cumprir os seus deveres escolares e familiares. E acrescentou: “É como se Nossa Senhora festejasse, no mês de Maio, em todos os dias, o seu aniversário: Ou seja: devemos dar uma prenda de anos, todos os dias deste mês, à Nossa Mãe do Céu!”
O rapazito ficou sério e via-se, pela sua cara, que não achara graça nenhuma ao que a mãe lhe tinha dito. Muito calado durante alguns segundos, murmurou: “Que exagero!”
A mãe tentou serená-lo. “Repara, Nossa Senhora é a Mãe de Jesus e de todos os homens. No Céu, não se cansa de rezar por nós e de dizer bem de cada um dos seus filhos, mesmo quando eles não se portam lá muito bem...”
A criança não dava sinais de ter sido convencida. E ia resmungando: “Fazer anos todo um mês... E eu só tenho um dia de anos... Não é injusto?”.
A mãe tentou serená-lo com outra argumentação. Mas o filho não quebrava. E quando a sua progenitora já não encontrava mais justificações, ele, com grande alegria e convicção, exclamou: “Já sei porque é...” Calou-se, pensativo, perante a expectativa maternal, que balbuciou. “Mas...” Ia perguntar-lhe qual o busílis da questão; não teve tempo. O rapaz explicou cheio de certeza: “É que, se todos os filhos de Nossa Senhora, só tivessem um dia para lhe telefonar a dar os parabéns, entupiam os telefones do Céu… Mas com um mês inteiro...”
A mãe não disse nada. Com certeza que contou a descoberta do filho a uma das avós, porque nessa tarde, ao receber um telefonema de uma amiga de todos os dias, ouviu do outro lado da linha: “Com que então, os telefones do céu entupidos...”
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Quantas histórias como esta não poderiam ser contadas pelas famílias cristãs. Estamos no mês de Maio, agradecidos a Cristo por se ter desprendido da sua condição de filho único de Maria. Achou por bem que também nós participássemos dos mesmos cuidados de amor maternal que Ele conheceu em toda a sua passagem divino-humana pela terra. O carinho, o amor, a compreensão, a capacidade educadora, a paciência, a dedicação experimentada na sua vida oculta e pública, sobretudo junto da Cruz, tudo isto levou a que o Filho de Maria desejasse conviver connosco com mais proximidade, tornando-nos filhos da Virgem Santíssima. Pareceu-Lhe pouco o sacrifício da sua vida por todos e cada um de nós. Quis mais!
Quis que todo o homem, como se observou, experimentasse a mesma e saborosíssima experiência filial que a Virgem Santíssima Lhe proporcionou. Se já, ao redimir-nos, fez de nós filhos de Deus, quis que a ligação divina connosco se aprofundasse de uma forma mais intensa e proveitosa, dando-nos uma Mãe comum, que é Maria. Efectivamente, ela é Mãe de Deus e nossa Mãe. Como que se dá uma aproximação mais íntima – porque familiar – da divindade com a humanidade e da humanidade com a divindade. Deus e nós, homens, temos uma mesma Mãe, Nossa Senhora., que mantém as relações de maior privacidade com a Trindade Santíssima, ao ser filha de Deus Pai, Mãe de Deus Filho e Esposa de Deus Espírito Santo. Por isso, através desta via mariana – repetimos, familiar e também tão maternal – podemos dirigir-nos ao Deus Uno e Trino com mais amor e com mais facilidade.
Autor: Pe. Rui Rosas da Silva