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Mês de Maio: a santidade do quotidiano

Nestes tempos de Maio que estamos a viver, sem dúvida que a figura de Nossa Senhora domina. É o seu mês e não podemos nem devemos deixar de lhe tributar o apreço que ela merece, não apenas por ser a Mãe do nosso Salvador, mas por ter aceitado, no Monte Calvário, pouco antes do último alento de Jesus, o encargo bem complexo de ser nossa mãe, não de um modo formal ou abstracto, mas com todo o sentido de responsabilidade afectiva e educativa que o amor maternal exige. E Maria Santíssima tem consciência de que o seu verdadeiro sucesso com cada um dos filhos que Deus lhe põe nas mãos é encaminhá-lo, pelo seu amor e pelo seu carinho, até à porta do Céu, a fim de poder entrar e gozar da felicidade verdadeira. Toda a sua missão aponta para esta meta. Nem sempre será fácil, embora o seu esforço, afável e íntimo, tudo oriente para que haja um final positivo, mau grado as asperezas do percurso levantadas pelo nosso orgulho e pela nossa tibieza. Quando reflectimos sobre a sua vida, verificamos que existem alguns factos extraordinários inquestionáveis. Mas esquecemo-nos dum aspecto fundamental: a santidade de uma pessoa não se mede pela realidade de alguns acontecimentos fora do habitual. A sua vida quotidiana, o cumprimento das tarefas mais normais de trabalho profissional, de relação familiar ou social, o aproveitamento do tempo – que é um bem limitado que Deus nos concede para prepararmos a vida eterna – são os alicerces fundamentais da santificação de todos nós e de todos os santos que estão nos altares. Incluindo Maria Santíssima. Não tenhamos ilusões. Pode haver um chamamento divino, de maneira algo insólita, digamos melhor, sobrenatural, relativamente a algumas pessoas para assumir determinadas incumbências. Nossa Senhora assim recebeu o anúncio de que Deus pretendia que ela fosse a Mãe do Messias prometido ao povo de Israel, através da visita absolutamente inesperada do Arcanjo S. Gabriel. S. Paulo é, por assim dizer, abalroado pela chamada real de atenção de Cristo, que o faz mudar completamente de intenções e de conduta, na sua ida para Damasco. Mas não foi isto, num caso e noutro, o alicerce fundamental que fez de Maria e de Paulo dois dos maiores santos que a Igreja venera com todo o cuidado e devoção, dando certamente à Santíssima Virgem um tratamento especial e mais elevado, em virtude de ela ser a Mãe de Deus. A existência de um santo qualifica-se, fundamentalmente, pelo desvelo e esforço por ele despendido no cumprimento dos seus deveres quotidianos. Não imaginamos, por exemplo, que Nossa Senhora fosse muito piedosa, mas uma dona de casa desleixada ou negligente. Isso é próprio de uma beata e não de quem se venera nos altares. A sua santificação ocorreu, sobretudo, nos tempos, calados e iterativos, em que procurou dar à sua casa o bom ambiente do que diríamos ser a morada de uma família verdadeiramente cristã. Para isso, como se deve ter esforçado por cuidar bem diariamente do arranjo e limpeza do seu lar de Nazaré, de apresentar as refeições com esmero e bom paladar, mau grado as economias modestas que permitiam o trabalho de seu marido, e depois, ao crescer, também do seu Filho Jesus. E contribuir com a sua presença amável para ajudar a construir um clima de afabilidade entre os seus. Jesus Cristo é muito conhecido, indubitavelmente, pelo modo como manifestou a sua doutrina e os seus poderes taumatúrgicos na chamada vida pública. No entanto, os cerca de trinta anos de existência calada não foram tempos de sobra ou inúteis. Seus pais são humildes; nasce imprevistamente em Belém num estábulo, sendo criado na pequena aldeia de Nazaré da Galileia. O seu dia a dia mostra-se totalmente normal e recolhido, chamando-O ao trabalho quotidiano de artesão. Procura fazê-lo do melhor modo; foi um trabalhador como tantos outros, com absoluta certeza, honrado, competente e honesto, que aprendeu a arte de seu pai, S. José, este também um homem simples e recatado, que exerce a sua profissão para manter a vida do lar de Nazaré com dignidade, pois é chefe de família. A maioria esmagadora das pessoas é chamada à santidade através do trabalho quotidiano e da vida familiar. Nessas circunstâncias, realizadas cara a Deus da forma mais adequada, cada fiel deve aspirar a ser santo de verdade. Não como uma utopia absurda ou desproporcionada, mas como um convite à luta por cumprir bem as obrigações que lhe são exigidas, acalentado pela graça que o Senhor lhe confere para o ajudar a fazer conscientemente o que lhe compete.
Autor: Pe. Rui Rosas da Silva
DM

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9 maio 2020