Só mesmo quando o verão fosse demasiado fresco e chuvoso é que essa fruta era de menor qualidade. O melão vem sobretudo do Ribatejo, daí a designação “de Almeirim”, uma vila agrícola e taurina mesmo em frente a Santarém, à beira-Tejo. A partir de certa altura, nos anos maus, Portugal era também abastecido por melões espanhóis, p. ex. da região de La Mancha, ou da Andaluzia, já se sabe, de pior qualidade (certa marca até recorria a um rótulo com a foto de um miúdo, que passava por ser filho de um produtor e ter falecido em criança). E em T. os Montes, também se produzem bons melões, os do quente vale de Vilariça (Moncorvo).
2 Ditos e aforismos acerca do melão). Todos os meus 8 bisavós eram da Beira Litoral, à excepção da minha bisavó de Outiz (Famalicão, antes, Barcelos), aliás nascida no Rio; e da minha bisavó de Santarém, uma típica descendente da “gens Julia” e que sabia montes de ditados e aforismos. E que quando irritada, iniciava muitas vezes a frase com um ameaçador “Ah que!” (digo isto, só para que possais perceber a maneira de ser das gentes do Sul…). Um dos tais aforismos é o conhecido “com melão, vinho, até do de tostão”, lembrando que, com outras bebidas o melão é indigesto. Outro, é que o bom melão é tão valioso que, no Sul, “dinheiro” é “aquilo com que se compram os melões”.
Outro dito era “Luís Vaz de Camões, sua mãe, dona Jacinta, de Freixo de E. Cinta, negociava em melões”, aludindo à tese (tb. de Hermano Saraiva), da possível origem cristã-nova do nosso poeta maior (a qual, lição para os seus confrades de hoje, não o impediu de ser fervoroso patriota…). Refira-se que o apelido “Camões” é geográfico (e botânico), reportando-se a uma de várias pequenas aldeias com o nome desse arbusto, p. ex., Gamones (Zamora, em frente a Mirª do Douro); ou Camões (a oeste de Castelo Branco). Elucidativamente, dizia também a minha bisavó que, “quem parte e reparte, e não fica com a melhor parte, ou é tolo ou não sabe da arte”. Ora isto serve como uma luva ao assunto que aqui trago hoje…
3 Uma teoria muito minha, muito minha…). Corria o ano de 98 quando comecei a colaborar neste glorioso Diário do Minho. Na altura, sempre que entregava um trabalho, tinha direito a uma conversa, às vezes de quase 1 hora, com o notável director, cón. João Aguiar (a quem desejo muita saúde). Eu sempre acreditei no que se chama “teorias da conspiração”, só em algumas, claro. E uma vez, expondo eu uma tese ao “padre João”, ele retorquiu, com uma naturalidade que me pareceu demasiado ingénua para não ser teatral: “o quê, não me diga que o dr. é dos tais que acredita em teorias da conspiração…”.
Bem, pois sou, eu “acredito”. E avento até a hipótese de que a má qualidade dos melões consumidos aqui no Norte será uma represália pela arrogante e infundada proibição das touradas em Viana do Castelo. Como dizem alguns, “a vingança serve-se fria”, i. é, quem é alvo da vingança não deve ser avisado; e tem de descobrir por si próprio (se conseguir…) que aquilo é uma represália pela injustiça que ele antes cometeu.
4 Associar as touradas a crueldade sobre animais, é chamar estúpidas e más, às pessoas do sul de Portugal). Em 1.º lugar, é a arrogância, o pedantismo de quem se sente no direito de lhes dar lições de moralidade e de civilização. Em 2.º lugar, é a falta de respeito por uma tradição secular muito enraizada (e partilhada com a maioria das províncias de Espanha). Em 3.º, é esquecer que aquilo é um combate, uma lide, em que às vezes quem sofre (e até morre…) é o toureiro. Em 4.º , os “amigos dos animais” só têm pena do touro, não do toureiro ou forcado…
Em 5.º, os “amigos dos animais” deviam é ter pena dos milhões de animais que os fogos-postos dizimam por ano em Portugal, mas disso não falam… Em 6.º, esquecem a crueldade, mt. superior, sobre milhões de frangos, cabritos, anhos, leitões, vitelos (que nem sequer chegam a adultos, como o touro) e que, com frequência toda a sua vida é uma “prisão”, sem a liberdade do touro nos campos.
Em 7.º, só poderá criticar uma tourada quem for vegetariano, pois com os peixes, polvos ou lagostas é a mesma violência. Em 8.º lugar, estão a contribuir para um perigoso divisionismo, dentro da nação portuguesa (há tradições taurinas no Ribatejo, Lisboa, Alentejo, Beira Baixa, Açores, Algarve, Guarda, Vinhais, Ponte de Lima, Baião, P. de Varzim). Em 9.º lugar, é um provincianismo copiar o que fez Barcelona (esquecendo a "aficción” de Picasso e de Dalí, ou de Sevilha, Madrid, Cáceres, Badajoz, Córdoba, Pamplona, Valência, Murcia, etc., etc.).
5 Por que é que a A28 deixou de ser gratuita?). Foi-o por mais de 10 anos. Tal como a A25 (Aveiro-V. Formoso), é uma via estruturante, que nunca devia deixar de ser gratuita. Mesmo que os desmandos do Socratismo em auto-estradas e barragens tenham de ser pagos por todos nós. Porém, se a arrogância da proibição de touradas (de Defensor Moura e José Costa) retrocedesse, palpita-me que a A28 (e os melões…) voltariam a ser o que já foram.
Autor: Eduardo Tomás Alves