Muito se tem falado sobre melhores condições de vida, como se tal mudança social não implicasse, também, combate à corrupção e à pobreza e não fosse, simultaneamente, mudança estrutural e conjuntural. Ou não será?
Li algures que “o povo habituado a sacrifícios, é lesto a dar o seu aval sempre que começam a soprar os ventos que prometem mudança." Ora parece que não basta a queda de um regime, para que os problemas fiquem resolvidos.
Com o 25 de Abril, pode ter chegado uma Constituição com direitos e deveres fundamentais, pode até incluir deveres fundamentais do Estado, direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, pode mesmo sugerir uma participação ativa na vida pública e até "garantir" tutela de direitos e interesses dos cidadãos.
Porém, cada governo, tem um programa, um orçamento próprio que vai gerindo conforme as necessidades e, curiosamente, também conforme o poder reivindicativo de alguns cidadãos, mais organizados capazes de parar o país ou causar perturbações sociais.
Um dia alguém escreveu que a esperança só é possível se os interesses próprios e partidários cederem lugar ao desígnio nacional. Porque, "se não existir um sentido alargado de interesse público, não estarão lançadas as bases de uma autêntica liberdade política".
Continuamos a ser um país pobre, dependente do exterior, recorrendo a empréstimos para pagar dívida, limitados no investimento mesmo aquele capaz de gerar retorno e riqueza.
Falar em dignidade e em condições de vida, implica vontade política e muito trabalho, nomeadamente um caminhar de novo em áreas como educação, trabalho, justiça, administração pública, enfim um trabalho profundo e consciente rumo aos objetivos que curiosamente foram programados na nossa Constituição e afinal continuam a ser uma esperança.
Um simples local de lazer para crianças ou idosos, ainda hoje continua a ser coisa complicada de obter, mesmo quando existem condições, apenas porque implica vontade política. Em conclusão: temos de mudar de rumo.
E parafraseando um grande escritor… "para mal dos nossos pecados, Portugal está a ver desmoronar um Estado social cujo edifício não chegou a concluir, embora as primeiras pedras tenham sido colocadas atempadamente, ou seja, o Estado nunca foi capaz de dar tudo a todos."
Autor: J. Carlos Queiroz