«Mau perder» é como o povo costuma classificar o amuo, a contestação, a irritação, a não-aceitação (ou tudo isto junto) de certas pessoas quando perdem um jogo jogado com toda a lisura, sem batota e no cumprimento de todas as regras.
Ao contrário, o jogador honesto aceita a derrota de consciência tranquila, com naturalidade, com (desculpem-me o anglicismo) «fair-play» – isto é, com honra. E assim transforma em honrosa a sua derrota.
«Mau perder» foi o que demonstraram, ou melhor, exibiram, os deputados indígenas quando, na semana passada, viram democraticamente derrotados os seus projectos de legalização da eutanásia. Imediatamente se generalizou uma irritada não-aceitação dos resultados, uma promessa de ajuste de contas, de próxima insistência no mesmo tema. Resumindo: reagiram mal a um processo democrático.
O que é curioso (mas vulgar entre nós) é que todos esses(as) deputados(as) se proclamam orgulhosamente democratas, falam em democracia a propósito e, sobretudo, a despropósito de tudo e de nada. Mas, na prática, só reconhecem a sua vontade. Democratas na atitude, anti-democratas no comportamento.
Porque – toda a gente sabe isto – ser democrata não é aceitar a vontade da maioria quando ela coincide com a nossa; é, sobretudo, aceitá-la mesmo quando é contrária à nossa. Toda a gente sabe isto mas poucos praticam isto.
Os senhores(as) deputados(as) que tão mal reagiram a essa famigerada votação vestem as alvas túnicas da democracia. Mas que escondem o coração de um ditador. Frustrado.
Foi assim vestindo e assim sentindo que deram aos portugueses uma lídima lição de anti-democracia encadernada na mais refinada hipocrisia democrática.
Em termos simples e populares: têm mau perder.
Nota: Por decisão do autor este texto não obedece ao impropriamenta chamado acordo ortográfico.
Autor: M. Moura Pacheco
Mau perder
DM
9 junho 2018