Estas cifras apontam para uma concepção do matrimónio, não como uma união indissolúvel entre os seus contraentes, mas como uma experiência efémera e transitória. Dizia alguém: como uma espécie de “casamento-a-ver-se-dá”.
Tudo isto é triste e também sintomático de que a concepção do matrimónio não se relaciona minimamente com a ideia de uma família duradoira e perene, sedimentada num amor sério e fecundo entre um homem e uma mulher. Pelo contrário, a família apresenta-se com vários modelos, abarcando situações díspares e contraditórias, que as nossas crianças aprendem nas escolas, sobretudo públicas. Pode ser a união entre um homem e uma mulher, sem dúvida, mas como monotipo de fecundidade aparece só com um filho solitário; é família uma mãe ou um pai com um filho a seu lado; e é também família a união entre duas pessoas do mesmo sexo, que podem educar uma criança, como se fossem os seus progenitores.
Outra razão que explica tantos divórcios reside no facto de o tempo de namoro ser mal vivido e mal orientado. Os noivos não se preparam para enfrentar uma vida bem unidos e comprometidos reciprocamente, na fidelidade e na promoção de uma descendência que eles devem educar com profunda dedicação e sentido de responsável estabilidade e sem a mira de um termo fácil dessa união, que se substitui sem dificuldade por outra com novos protagonistas. As leis inclinam-se para estas substituições rápidas e ágeis, que fazem do lar desarticulado uma ruína, com todas as consequências negativas na educação da prole. Observava um meu amigo: “Hoje é mais fácil divorciar-se do que mudar de carro...”
O matrimónio natural é união indissolúvel de um homem com uma mulher, porque um e outro têm capacidade para assumir esta responsabilidade e levar para a frente o seu projecto de harmonia, amor e entrega mútua, com tudo o que disto pode resultar. Foi deste modo que Deus lhe deu origem, ao criar o ser humano, homem e mulher.
No caso do casamento católico, não se toca na essência deste modelo de união, mas ela é enriquecida com a graça do sacramento, traduzida numa ajuda especial de Deus para que os compromissos assumidos sejam fortalecidos e facilitados na sua realização. Que Deus tenha instituído, por Cristo, o sacramento do matrimónio e que recebê-lo dignamente é uma carícia divina encaminhada para o seu sucesso e à felicidade dos contraentes, não é difícil de descobrir.
Sendo o nosso Criador o maior respeitador da liberdade humana, pôde, com respeito por esta faceta da nossa natureza, encaminhar cada um dos futuros contraentes um para o outro, fazendo com que se conhecessem e começassem a descobrir, cada um de per si, que aquele rapaz ou aquela rapariga se apresentava na sua vida duma forma diferente e mais atractiva. A esta aproximação, veio depois a etapa do amor, que os levou ao compromisso matrimonial.
A acção de Deus, discreta mas eficaz, – sempre, como se disse, com respeito absoluto pela liberdade humana –, conduziu de modo decidido o noivo e a noiva até ao altar.
Ao receberem o sacramento do matrimónio, Deus compromete-Se a ajudar de um modo certo e sério a sua união, pois sabe que ela é a forma de realização e de santificação das pessoas que ajudou a contrai-la. Nesta perspectiva, toda a acção divina se encaminha para que os cônjuges possam dizer, conforme os casos, este é o marido ou a mulher que Deus encaminhou para mim. E dizem-no, confiantes de que a ajuda sobrenatural é o primeiro princípio santificador da sua união e da sua liberdade de se amarem... E, como tal, o grande alicerce da sua fidelidade, felicidade e constância, já que Deus sempre propõe ao homem o melhor para ele.
Autor: Pe. Rui Rosas da Silva